O presente trabalho aborda alguns aspectos do discurso do poder que estão em jogo no funcionamento da cultura. A partir dos estudos sobre colonialismo, nacionalidade e identidade, trata-se de investigar o modo particular como as relações identitárias tem sido representadas textualmente pela chamada literatura pós-colonial. Os textos de Teolinda Gersao e Nadime Gordimer nos fornecem exemplos no sentido de mostrar como a literatura pós-colonial reelabora as relações entre identidade e alteridade dentro do texto literário. This paper approaches some aspects of power discourse, which are at stake in the functioning of culture. Up from the studies on colonialism, naturality and identity, it deals with investigating the particular way how identity connections have been textually represented by the so-called postcolonial litearature. The texts by Teolinda Gersão and Nadine Gordimer offer us examples to show how postcolonial reelaborates the connections between identity and otherness in the literary text.
African Europhone literatures in translation raise a series of questions largely orbiting around a now central preoccupation: have the translators conceived their project in a "decolonizing" perspective? In the following paper, I propose to consider the translation of aesthetic features as the principal means of asserting the identity of postcolonial writers. My analysis is essentially based on a poetic reading of Ayi Kwei Armah's first novel, The Beautyful Ones Are Not Yet Born, based on the author's literary heritage. Its French translation by Robert and Josette Mane, L'Age d'or n'est pas pour demain, is examined in terms of its capacity to "decolonize" the text, i.e., to reactivate not only Armah's palimpsestic poetics, but also sociolects and repetitions, since the latter are regularly identified as markers of West African writing. In so doing, I highlight both the difficulties and limitations associated with postcolonial translation criticism. The original article is in French. ; La traducción de la literatura africana en lenguas europeas plantea una serie de preguntas que en su mayoría giran alrededor de una inquietud central: ¿Es que los traductores han concebido su proyecto desde una perspectiva "descolonizadora"? El artículo invita a considerar la traducción de los elementos estéticos como el recurso principal para reafirmar la identidad de los escritores poscoloniales. En su análisis de la autora realiza una lectura poética de la primera novela de Ayi Kwei Armah, The Beautyful Ones Are Not Yet Born (1986), basada en la tradición literaria del autor. El estudio de su traducción francesa, realizada por Robert y Josette Mane, L'Age d'or n'est pas pour demain (1976), gira entorno a su capacidad para "decolonizar" el texto, es decir, de reactivar no sólo la poética palimpséstica de Armah, sino también los sociolectos y repeticiones, los cuales se reconocen con frecuencia como marcas de la escritura africana occidental. De este modo en el estudio se subrayan tanto las dificultades como los límites que se le atribuyen a la crítica poscolonial de la traducción. El artículo original está en francés. ; La traduction des littératures africaines europhones soulève une série de questions articulées – aujourd'hui – presque systématiquement autour de l'axe suivant : les traducteurs ont-ils inscrit leur projet dans une perspective « décolonisante »? Adhérant au postulat selon lequel traduire l'esthétique équivaut à reconnaître celle-ci comme le principal instrument de revendication identitaire des écrivains postcoloniaux, mon analyse repose essentiellement sur une lecture poétique du premier roman d'Ayi Kwei Armah, The Beautyful Ones Are Not Yet Born, à partir du patrimoine littéraire de l'écrivain. La traduction française, réalisée par Robert et Josette Mane, L'Age d'or n'est pas pour demain, est examinée à l'aulne du qualificatif « décolonisant », en sa faculté à réactiver non seulement cette poétique palimpsestique, mais aussi sociolectes et répétitions, deux éléments souvent identifiés comme caractéristiques de l'écriture ouest-africaine. Ce faisant, je mets en évidence la difficulté de la critique traductive postcoloniale et en souligne les limites. L'article original a été rédigé en français. ; A tradução de literaturas africanas eurófonas levanta uma série de perguntas hoje sistematicamente articuladas em volta do seguinte eixo: os tradutores conceberam seus projetos sob uma perspectiva "descolonizadora"? Neste artigo, proponho considerar a tradução de traços estéticos como principal meio de reivindicação identitária dos escritores pós-coloniais. Minha análise se fundamenta essencialmente numa leitura poética do primeiro romance de Ayi Kwei Armah, The Beautyful Ones Are Not Yet Born, a partir do patrimônio literário do autor. A tradução para o francês feita por Robert e Josette Mane, L'Age d'or n'est pas pour demain, é analisada quanto à sua capacidade de "descolonizar" o texto, ou seja, reativar não apenas a poética palimpséstica de Armah, mas também socioletos e repetições, já que esses elementos são identificados como característicos da escrita da África Ocidental. Neste processo, destaco tanto as dificuldades como as limitações associadas com a crítica tradutória pós-colonial. O artigo original está em francês.
Inequality is a historical issue in Brazil, an inheritance of entangled and interdependent social, economic, political and legal injustices. This article summarizes a research on fine-dining restaurant kitchens in the city of Uberlandia, a major economic and migration hub in central Brazil, seeking to expose instances of inequalities replicated in these organizations. It attempts to offer a critical study of unfolding dialogues between its employees' perspectives of their socio-cultural contexts and those of the organizations and their own contextual particularities, using the notions of medievality, global city and foodscape as categories of analysis, with further considerations on organization studies, postcolonialism and postmodernity. Its research corpus' empirical material was collected through shadowing chefs in two restaurants and was analyzed in the light of those categories and considerations. It was possible to interpret that such workers, organizations, and their contexts reproduce symbols, behaviors and representations that may operate as sources of social distinction for their customers, but, paradoxically, may reinforce the inequalities that motivated the research. ; La desigualdad es una cuestión histórica en Brasil, herencia de injusticias sociales, económicas, políticas y jurídicas enmarañadas e interdependientes. Este artículo es el resumen de una investigación exhaustiva sobre cocinas de restaurantes finos de la ciudad de Uberlândia ‒gran polo económico y migratorio de la región central de Brasil‒, que se propone exponer instancias de desigualdad replicadas en sus organizaciones. El presente trabajo estudia críticamente el desdoblamiento de los diálogos entre las perspectivas de los empleados de dichos establecimientos, a partir de sus contextos socioculturales, y las perspectivas y particularidades de las organizaciones, usando las nociones de medievalidad, ciudad global y paisaje alimentario como categorías de análisis, con consideraciones adicionales en estudios de organización, poscolonialismo y posmodernidad. El material empírico del corpus de investigación se recolectó por medio del seguimiento de chefs en dos de esos restaurantes, y luego se analizó a la luz de esas categorías y consideraciones. El trabajo revela que los empleados, las organizaciones y sus contextos reproducen símbolos, comportamientos y representaciones que pueden ser fuentes de distinción social para sus clientes, pero, paradójicamente, también pueden reforzar las desigualdades que motivaron la investigación. ; A desigualdade é uma questão histórica no Brasil, uma herança de injustiças sociais, econômicas, políticas e jurídicas emaranhadas e interdependentes. Este artigo é um resumo de uma abrangente pesquisa sobre cozinhas de restaurantes finos na cidade de Uberlândia, grande polo econômico e migratório na região central do Brasil, buscando expor instâncias de desigualdades replicadas em suas organizações. O presente trabalho faz um estudo crítico do desdobramento dos diálogos entre as perspectivas dos funcionários desses estabelecimentos, a partir de suas contextos socioculturais, e as perspectivas e particularidades das organizações, usando as noções de medievalidade, cidade global e paisagem alimentar como categorias de análise, com considerações adicionais em estudos de organização, pós-colonialismo e pós-modernidade. O material empírico do corpus de pesquisa foi coletado por meio do acompanhamento de chefs em dois desses restaurantes e, em seguida, analisado à luz dessas categorias e considerações. O trabalho revela que os funcionários, as organizações, e seus contextos reproduzem símbolos, comportamentos e representações que podem ser fontes de distinção social para seus clientes, mas, paradoxalmente, podem também reforçar as desigualdades que motivaram a pesquisa.
Inequality is a historical issue in Brazil, an inheritance of entangled and interdependent social, economic, political and legal injustices. This article summarizes a research on fine-dining restaurant kitchens in the city of Uberlandia, a major economic and migration hub in central Brazil, seeking to expose instances of inequalities replicated in these organizations. It attempts to offer a critical study of unfolding dialogues between its employees' perspectives of their socio-cultural contexts and those of the organizations and their own contextual particularities, using the notions of medievality, global city and foodscape as categories of analysis, with further considerations on organization studies, postcolonialism and postmodernity. Its research corpus' empirical material was collected through shadowing chefs in two restaurants and was analyzed in the light of those categories and considerations. It was possible to interpret that such workers, organizations, and their contexts reproduce symbols, behaviors and representations that may operate as sources of social distinction for their customers, but, paradoxically, may reinforce the inequalities that motivated the research. ; La desigualdad es una cuestión histórica en Brasil, herencia de injusticias sociales, económicas, políticas y jurídicas enmarañadas e interdependientes. Este artículo es el resumen de una investigación exhaustiva sobre cocinas de restaurantes finos de la ciudad de Uberlândia ‒gran polo económico y migratorio de la región central de Brasil‒, que se propone exponer instancias de desigualdad replicadas en sus organizaciones. El presente trabajo estudia críticamente el desdoblamiento de los diálogos entre las perspectivas de los empleados de dichos establecimientos, a partir de sus contextos socioculturales, y las perspectivas y particularidades de las organizaciones, usando las nociones de medievalidad, ciudad global y paisaje alimentario como categorías de análisis, con consideraciones adicionales en estudios de organización, poscolonialismo y posmodernidad. El material empírico del corpus de investigación se recolectó por medio del seguimiento de chefs en dos de esos restaurantes, y luego se analizó a la luz de esas categorías y consideraciones. El trabajo revela que los empleados, las organizaciones y sus contextos reproducen símbolos, comportamientos y representaciones que pueden ser fuentes de distinción social para sus clientes, pero, paradójicamente, también pueden reforzar las desigualdades que motivaron la investigación. ; A desigualdade é uma questão histórica no Brasil, uma herança de injustiças sociais, econômicas, políticas e jurídicas emaranhadas e interdependentes. Este artigo é um resumo de uma abrangente pesquisa sobre cozinhas de restaurantes finos na cidade de Uberlândia, grande polo econômico e migratório na região central do Brasil, buscando expor instâncias de desigualdades replicadas em suas organizações. O presente trabalho faz um estudo crítico do desdobramento dos diálogos entre as perspectivas dos funcionários desses estabelecimentos, a partir de suas contextos socioculturais, e as perspectivas e particularidades das organizações, usando as noções de medievalidade, cidade global e paisagem alimentar como categorias de análise, com considerações adicionais em estudos de organização, pós-colonialismo e pós-modernidade. O material empírico do corpus de pesquisa foi coletado por meio do acompanhamento de chefs em dois desses restaurantes e, em seguida, analisado à luz dessas categorias e considerações. O trabalho revela que os funcionários, as organizações, e seus contextos reproduzem símbolos, comportamentos e representações que podem ser fontes de distinção social para seus clientes, mas, paradoxalmente, podem também reforçar as desigualdades que motivaram a pesquisa.