O middle ground
In: Esboços: revista do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC, Band 27, Heft 46, S. 554-602
Abstract
Na região dos Grandes Lagos da América do Norte de meados do século XVII a meados do XVIII, nativos algonquinos e agentes coloniais franceses interagiram em meio ao complexo processo de contato colonial. As condições de existência naquele espaço impeliam algonquinos e franceses a um apoio recíproco para se atingir objetivos específicos. Isso ocorria de tal modo que eles produziram concepções comuns de adequados modos de agir, isto é, aquilo que denominamos de middle ground. A necessidade inevitável de comunicação nos termos do outro gerou um processo de oportunos e criativos mal-entendidos mútuos, os quais produziam novos conteúdos culturais que, ao se tornarem convenções entre as partes envolvidas, se transformavam num novo referencial que orientou as ações dos sujeitos históricos. A abordagem teórica desse conceito é discutida nesse texto por meio da análise das relações cotidianas nas quais algonquinos e franceses produziram essa zona de inteligibilidade mútua. As congruências culturais, que deram forma ao middle ground, eram respostas a problemas e controvérsias que giravam em torno de questões como sexo, violência e comércio. A análise das medidas tomadas nesses campos relacionais expõe que os conteúdos híbridos surgiam de reiteradas tentativas de se encontrar conexões entre os referenciais normativos franceses e costumes algonquinos. As respostas produzidas nessas situações não se configuravam como noções exclusivamente francesas ou algonquinas, mas como improvisações e criações emergidas em pontos onde as culturas se cruzavam e promoviam uma zona cultural intermediária em que as expectativas de cada lado poderiam encontrar um grau aceitável de satisfação.
Problem melden