O presente texto apresenta a partir da perspectiva crítica e reflexiva, algumas contribuições ao Serviço Social sobre o debate LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros, Queers, Intersexuais...). Entende-se que a categoria profissional e estudantil, a partir do compromisso ético-político, deve se aproximar das compreensões e do debate, repensando posicionamentos, se aproximando da diversidade. O enfoque deste trabalho se localiza na exposição e diferenciação de identidades de gênero e orientações sexuais, apresentando algumas compreensões das múltiplas categorias de gênero, dentre inúmeras outras, que vem nascendo em meio à diversidade humana. O texto termina com uma provocação política, teórica e crítica acerca da comunidade LGBTQI+ e o combate às opressões de gênero e sexualidade.
Resumo: Neste trabalho, propomos um exercício de leitura do filme Meu Nome é Ray (THREE Generations, Gaby Dellal, 2015), questionando a relação da identidade e do binarismo sexualidade/gênero. O filme aborda o processo de transição de gênero do adolescente Ray. Utilizamos a desconstrução como referência analítica conforme posta por Jacques Derrida, entendida como o esforço de problematizar os modos hegemônicos de produção subjetiva considerando os movimentos de reversão e de deslocamento. O objetivo é problematizar a constituição do corpo e do gênero como atravessados pelos modos de subjetivação dominantes, além de discutir os termos de identificação disponíveis daqueles que escapam à heteronorma, conforme proposto por Judith Butler. Ressaltamos, ainda, a necessidade da despatologização das identidades trans de acordo com a publicação da mais recente atualização do CID-11.
Resumo Desde 2002, agências internacionais do mundo institucional do refúgio têm reconhecido a possibilidade de solicitação do reconhecimento do status de refugiado com base na orientação sexual e identidade de gênero. Neste artigo, abordo a articulação entre os chamados direitos sexuais e os direitos relacionados ao refúgio, no marco dos direitos humanos, na produção da categoria "refugiados LGBTI". Discuto, nesse contexto, as relações entre gênero, sexualidade e violência e o entrecruzamento de narrativas sobre violência produzidas por diversos atores relacionados ao mundo institucional do refúgio, bem como pelos próprios solicitantes de refúgio. Tais aspectos são explorados a partir de pesquisa de campo realizada na Espanha e no Brasil.
Neste artigo, reconstituímos a recente emergência da categoria "refugiados LGBTI" no contexto internacional de direitos, permitindo delinear um campo discursivo em que gênero e sexualidade entrecruzam-se com a noção de "refugiados". Analisamos a articulação entre os principais instrumentos de construção do refúgio no campo dos direitos e sua releitura de acordo com desenvolvimentos recentes no campo dos direitos sexuais. O cenário é composto pela análise de documentos tais como guias e diretrizes publicados no âmbito do universo institucional do refúgio, particularmente da Agência da ONU para Refugiados (UNHCR), tematizando orientação sexual e identidades de gênero. Ao final, exploramos alguns indicativos de como tais documentos se localizam no contexto brasileiro.
A obra de Paul Durcan encontra uma das suas feições mais atraentes no modo como reconhece fronteiras e explora travessias. As linhas divisórias que a sua poesia cruza regularmente são de vários tipos: são semióticas e intermediais, quando Durcan interpela verbalmente representações noutros sistemas de significação – em particular nas artes visuais; são culturais e políticas, envolvendo o processamento poético de circunstâncias irlandesas ou globais; e questionam identidades de gênero, salientando as perplexidades de mulheres e homens como sujeitos e objetos de uma multiplicidade de inscrições. Este ensaio aborda a escrita (literalmente) transgressiva de Durcan e os desafios intelectuais e disciplinares que ela comporta, ao interrogar o modo como lemos poemas e imagens, mas também como aceitamos a auto-contenção de configurações políticas e identitárias. ; The poetry of Paul Durcan finds one of its major attractions in its acknowledgement and crossing of boundaries. Such borderlines are of various types: they are semiotic and intermedial, involving Paul Durcan's deployment of verbal resources to co-opt or challenge representations in other systems of signification – especially visual media; they are cultural and political, concerning the poet's processing of elements from both Irish and global cultures; and they are those proper to gendered identities, highlighting the positions of men and women as both subjects and objects of a variety of inscriptions. This essay approaches Durcan's (literally) transgressive writing and the intellectual and disciplinary challenges it poses by questioning our ability to read poems and pictures, and accept the ostensible self-containment of political conformations and modes of identity.
O artigo analisa a relação entre gênero, transexualidade e educação, refletindo sobre o reconhecimento do sujeito transexual na instituição educacional no Brasil. Para tanto, o estudo discute o conceito de identidade de gênero e transexualidade a partir do ponto de vista do saber médico e das ciências humanas. Por meio de entrevistas com professores/as do ensino superior no Estado do Rio Grande do Norte, a pesquisa mostra que a problemática de gênero é pouco estudada no sistema educacional. Considerando a perspectiva dos/as professores/ as entrevistados/as, apesar do questionamento acerca da teoria da oposição binária da sexualidade, os discursos evidenciam a falta de reconhecimento do sujeito transexual na educação superior no Brasil.Palavras-chave: Gênero. Transexualidade. Educação. Gender, transsexuality and education: recognition and difficulties for emancipationABSTRACTThis paper analyses the relationship between gender, transsexuality and education, refl ecting about the recognition of the transsexual subject in the educational institution in Brazil. In order to do so, the study discusses the concept of gender identity and transsexuality from the standpoint of medicals knowledge and humans sciences. By means of interviews with professors of the higher education in the state of Rio Grande do Norte, the research shows that the gender problematic is little studied in the educational system. Considering the vision of the professors interviewed, in spite of the questioning about the theory of the binary opposition of sexuality, the discourses evidences the lack of recognition of the transsexual subject in higher education in Brazil.Keywords: Gender. Transsexuality. Education. Género, transexualidad y educación: reconocimiento y dificultades para emancipaciónRESUMENEl artículo analiza la relación entre género, transexualidad y educación, refl exionando sobre el reconocimiento del sujeto transexual en la institución educativa en Brasil. Para ello, el estudio discute el concepto de identidad de género y transexualidad desde el punto de vista del saber médico y de las ciencias humanas. A través de entrevistas com profesores (as) de la enseñanza superior en el Estado de Rio Grande do Norte, la investigación evidencia que la problemática de género es poco estudiada en el sistema educativo. Considerando la perspectiva de los (as) profesores (as) entrevistados (as), pese el cuestionamiento acerca de la teoría de la oposición binaria de la sexualidad, los discursos evidencian la falta de reconocimiento del sujeto transexual en la educación superior en Brasil.Palabras clave: Género. Transexualidad. Educación.
O presente artigo visa apresentar os resultados parciais de uma aplicação realizada no grupo/projeto L.I.R.A. sobre a percepção de um grupo de meninas a respeito do papel delas na sociedade e nas ciências, bem como refletir sobre como essa percepção, tanto de si quanto do outro, afeta a construção de suas identidades. A análise dos dados foi feita através de uma metodologia qualitativa com a aplicação de um grupo focal que teve como foco o discurso das participantes sobre o tema pesquisado. Os resultados parciais demonstraram que embora as meninas apresentem interesse por ciências e por algumas de suas áreas específicas: matemática, engenharia entre outras, sofrem preconceito de gênero por parte de amigos e familiares por esses não acreditarem em sua capacidade. Logo, a discussão sobre essa tema se mostrou de grande relevância não só para os objetivos da pesquisa, mas também para incentivar as meninas a pensarem sobre essa temática e se inserirem na área científica.
O artigo investiga de que modo alguns marcadores de gênero como sexo biológico e nome próprio ferem o direito à identidade própria de sujeitas e sujeitos dissidentes das normas de gênero e sexualidade. A partir de pesquisas sobre inscrições autobiográficas em escritas afetivas e performativas comunicadas em textualidades diversas, busca-se refletir sobre a escolha do nome próprio, o nome civil versus nome social, o nome retificado versus nome morto, e suas relações com a alteridade.
Este artigo analisa as relações entre afetos, gênero e disputas por legitimidade e tradição em torno do documentário AmarElo – é tudo pra ontem, do rapper brasileiro Emicida, lançado em 2020. Busca entender como o amor e os femininos criam tensão e expõem as dinâmicas heterogêneas através das quais o documentário aciona identidades de gênero, tecendo alianças afetivas, no seu percurso discursivo de legitimação e reconstrução narrativa em disputas por tradição.
Neste trabalho me proponho a tecer algumas considerações sobre os determinantes de gênero na dinâmica das relações sociais a partir de uma perspectiva feminista. Entendo, porém, que, nas sociedades contemporâneas, capitalismo, sexismo, racismo, etarismo, e lesbo/homofobia, dentre outras matrizes de opressão, não agem independentemente. Estão imbricadas ou em "simbiose", constituindo-se como matrizes de opressão que se entrelaçam e se reforçam, forjando sistemas de estratificação e opressão interseccionados. Da mesma forma, gênero, raça e classe e demais marcadores de diferença e elementos constitutivos das relações sociais não atuam separadamente. Esses elementos se intersectam e recortam uns aos outros, modificando, mutuamente, uns aos outros. Isso implica dizer que as respectivas categorias de gênero, raça, classe e outras categorias sociais similares não são categorias autônomas. Daí porque precisamos pensar em instrumentos conceituais que nos permitam identificar e analisar como estruturas de privilégio e opressão se intercruzam em diferentes níveis e se manifestam na vida cotidiana das mulheres e na construção de suas identidades. Nesse intuito, baseio-me aqui na noção de "caleidoscópios de gênero" que, acredito, nos permite melhor dar conta desses processos.
What reading can we do about the Gender Identity Law Nº26743 from psychoanalysis? There are various positions that range from rejection, through indifference, to a fascination with making the Law a clinical orientation. From the Lacanian orientation, we should be able to make a possible reading from our own real, that which enunciates an absence of knowledge in the real concerning sexuality. So, how does this new configuration of sexual identities based on the new legislation on gender affect the psychoanalytic clinic? Does it affect in any way the ethics of psychoanalysis? When can we speak of "a case of gender" in psychoanalysis? These are some of the questions that this article will try to answer. ; ¿Qué lectura podemos hacer acerca de la Ley de Identidad de Género Nº26743 desde el psicoanálisis? Existen diversas posiciones que van desde el rechazo, pasando por la indiferencia, llegando a una fascinación queriendo hacer de la Ley una orientación clínica. Desde la orientación lacaniana, deberíamos poder realizar una posible lectura desde nuestro propio real, aquel que enuncia una ausencia de saber en lo real concerniente a la sexualidad. Entonces, ¿cómo incide en la clínica psicoanalítica esta nueva configuración de las identidades sexuales a partir de las nuevas legislaciones sobre el género? ¿Afecta de algún modo a la ética del psicoanálisis? ¿Cuándo podemos hablar de "un caso de género" en psicoanálisis? Son algunos de los interrogantes a los que se tratará de dar respuesta en este artículo. ; Que leitura podemos fazer sobre a Lei de Identidade de Gênero Nº26743 da psicanálise? Há várias posições que vão desde a rejeição, passando pela indiferença, até o fascínio de fazer da Lei uma orientação clínica. A partir da orientação lacaniana, devemos ser capazes de fazer uma leitura possível a partir de nosso próprio real, aquele que enuncia uma ausência de conhecimento do real no que diz respeito à sexualidade. Então, como essa nova configuração de identidades sexuais baseada na nova legislação sobre gênero afeta a clínica psicanalítica? Ela afeta de alguma forma a ética da psicanálise? Quando podemos falar de "um caso de gênero" na psicanálise? Estas são algumas das perguntas que este artigo tentará responder.