Slavoj Zizek tem sido um autor de destaque na discussão filosófica e política contemporânea. Na obra O acontecimento o autor atualiza suas ideais em relação ao ponto central da noção de acontecimento, passando pela compreensão mais cotidiana até chegar à refinada filosoficamente, expondo os impasses de cada abordagem da noção. Como primeira definição, temos: "um acontecimento é, assim, o efeito que parece exceder suas causas – e o espaço de um acontecimento é aquele que é aberto pela brecha que separa o efeito das causas" (p.9). Assim, essa concepção vem romper com a metafísica tradicional segundo a qual tudo o que acontece deve estar vinculado a cadeias causais e razões suficientes sugerindo algo que acontece a partir do nada, tema já elaborado pelo autor na sua obra Menos que nada; (boitempo, 2013). O acontecimento é uma mudança no enquadramento pelo qual percebemos o mundo.
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Resumo O presente artigo busca examinar as parcas menções a Helvétius na obra nietzschiana, tendo como objetivo mais específico apresentar um sentido para a afirmação de Nietzsche de que o pensador francês estaria à frente do "último grande acontecimento da moral". A hipótese apresentada é de que Helvétius tenha importância tanto positiva - como proponente de um modelo mais realista de análise dos fenômenos morais - quanto negativa - como precursor do mais recente desdobramento da moralidade de rebanho.
As teorias do acontecimento têm sido muito utilizadas nos estudos da comunicação, notadamente para análise do jornalismo, das celebridades, dos grandes eventos, das catástrofes. A aplicação aos estudos da comunicação organizacional é restrita, para não dizer nula. Acreditando que o entendimento das crises organizacionais pode ganhar um novo impulso com tal abordagem teórico-metodológica, buscamos apresentar e explorar os fundamentos acerca dessa articulação, bem como os entrecruzamentos entre discursos oficiais e outros discursos presentes nas interações públicos-organizações e a propriedade da visada acontecimental para explicar fenômenos organizacionais, posto que, na situação de crise, são as organizações elas próprias acontecimentos ou catalisadoras da discussão de problemas públicos.
Este artigo objetiva problematizar a expressividade da fotografia como acontecimento formativo que parte do vivido e da abertura para que se manifeste o criativo. A reflexão aqui desenvolvida se articula a partir de linhas de convergência entre dois campos do conhecimento: Educação e Filosofia, recorrendo-se à abordagem da metodologia fenomenológica para indicar as variações da experiência na jurisdição da imanência. No discurso epistemológico predominante, somos movidos pelo racional, pelo cognitivo, e desvalorizamos as sensações e emoções como vias de acesso ao conhecimento, que são tão legítimas quanto a dimensão racional. Trata-se, pois, de explorar as dimensões criativas e fronteiriças da cognição e da imagem como possibilidades de outros modos de sentir e pensar.Palavras-chave: Acontecimento formativo. Fotografia. Educação. Fenomenologia.Expressive folds in teaching: photography as an eventABSTRACTThis article aims to problematize the expressiveness of photography as a formative event that starts from the experience and the opening for the creative to manifest itself. The reflection developed here is articulated based on lines of convergence between two fields of knowledge: Education and Philosophy, using the phenomenological methodology approach to indicate variations in experience in the jurisdiction of immanence. In the predominant epistemological discourse, we are moved by the rational, by the cognitive, and we devalue sensations and emotions as ways of accessing knowledge, which are as legitimate as the rational dimension. It is, therefore, about exploring the creative and frontier dimensions of cognition and image as possibilities for other ways of feeling and thinkingKeywords: Formative happening. Photography. Education. Phenomenology.Pliegues expresivos en la enseñanza: la fotografía como un eventoRESUMENEste artículo tiene como objetivo problematizar la expresividad de la fotografía como un evento formativo que parte de la experiencia y la apertura para que lo creativo se manifieste. La reflexión desarrollada aquí se articula en base a líneas de convergencia entre dos campos de conocimiento: Educación y Filosofía, utilizando el enfoque de metodología fenomenológica para indicar variaciones en la experiencia en la jurisdicción de la inmanencia. En el discurso epistemológico predominante, nos mueve lo racional, lo cognitivo, y devaluamos las sensaciones y las emociones como formas de acceder al conocimiento, que son tan legítimas como la dimensión racional. Por lo tanto, se trata de explorar las dimensiones creativas y fronterizas de la cognición y la imagen como posibilidades para otras formas de sentir y pensar.Palabras clave: Evento formativo. Fotografía. Educación. Fenomenología.
The presence of events as a phenomenon, and its counterpoint, the habit, echo in a continuous interrelationship over the whole plot of the novel The Plague(1947) by Albert Camus. This article consists of investigating the concept of event and its relations with the mediating notion of language -in the same way as the idea of resistance- in the light of a reading of the reflections of Gilles Deleuze, Slavoj Zizek and John Caputo about this subject. Therefore, possible correlations between fictional construction and philosophy will be exposed in the analysis of this work, which is considered one of the most symbolic of the 20th century.
O artigo busca pensar as Jornadas de Junho como um acontecimento, um processo incessante de reconfiguração do sensível e do político, sobre o qual não é possível formular um estado de coisas, pois existe em devir, na fuga do pensamento. Cientes do desafio de apontar essa natureza acontecimental das Jornadas de forma a seguir seu movimento, a aposta é debruçar-se sobre as imagens gestadas no calor das manifestações e dos conflitos, que colocam em jogo a disputa na constituição de um novo campo de visibilidade. Através da comparação entre filmes institucionais e aqueles produzidos por documentaristas militantes, mapeando as relações entre a perspectiva cinematográfica pré-concebida e aquela que só pode se dar no enfrentamento das ruas, procuramos situar onde a gênese da imagem faz com que o acontecimento incida.
Esta discussão é uma tentativa de delineamento de alguns aspectos básicos da ontologia e da concepção do pensamento político elaborado por Alain Badiou, um filósofo francês contemporâneo, que vem se destacando na construção de uma filosofia política que se propõe a recuperar o ideal emancipatório que, na sua perspectiva, há algum tempo foi abandonado pelos filósofos - em especial os franceses. Inicialmente expõem-se aspectos da trajetória intelectual e do engajamento político do filósofo que, sem sombras de dúvidas, confirmam uma perspectiva político-filosófico voltada para a práxis. Num segundo momento, procura-se apresentar os conceitos de verdade, acontecimento e a concepção de ontologia do filósofo. Nisso, conclui-se que as questões fundamentais da filosofia de Badiou são ontológicas e não epistemológicas, de fato a investigação badiouano é sobre o ser, a verdade e o sujeito, e não tanto sobre as condições de construção do conhecimento a partir da experiência possível.
Bruce Albert define A queda do céu, escrito em parceria com Davi Kopenawa, como um "manifesto cosmopolítico". Proponho ler este livro a partir da "proposta cosmopolítica", de Isabelle Stengers, segundo a qual a definição da política como garantida pela existência de uma natureza imutável e inerte deve ser posta em xeque. Em A queda do céu, acompanhamos Kopenawa construir um discurso cosmopolítico, no qual os xapiri ("imagens" dos seres da "terra-floresta") são agentes fundamentais e no qual a palavra detém um estatuto particular, revelando-se por diferentes modalidades discursivas, associadas a afecções e efeitos específicos. Kopenawa contrapõe a política dos xapiri e das "belas falas" à política dos brancos, com seu mundo desencantado e com suas palavras emaranhadas. Seu discurso – fala de chefe transposta à escrita – é um manifesto de resistência do povo yanomami e ao mesmo tempo uma lição de moral dirigida aos leitores não-indígenas.