Resumo Considerando a interconexão entre gênero e ciência no quadro mais geral de medicalização das sexualidades feminina e masculina, este artigo discute a promoção da ocitocina como novo artefato tecnológico, capaz de capitanear, ao mesmo tempo, as explicações acerca das supostas diferenças biológicas entre os sexos e as expectativas de aprimoramento individual. O foco de investigação é a divulgação de descobertas científicas em torno da ocitocina em diferentes veículos de comunicação no Brasil. Trata-se de apresentar de que maneira a celebrização da ocitocina como componente central de uma bioquímica do amor se inscreve dentro do processo mais amplo de fabricação de dois corpos hormonais distintos e complementares a serviço da reprodução.
O objetivo deste trabalho é refletir, a partir de nossa experiência como docentes do curso de graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre o ensino dos conteúdos relativos à problemática/às questões de gênero para estudantes em formação profissional na área da saúde. Acatando o desafio proposto neste dossiê, buscamos analisar como esse bacharelado – per se, interdisciplinar – tem sido atravessado cotidiana e praticamente pelas ciências sociais, em particular pelas teorias que abordam o gênero como categoria analítica e importante ferramenta conceitual para uma compreensão crítica e política da realidade social. Acreditamos que tal aprendizado se torna imprescindível para uma atuação mais engajada com as desigualdades sociais em sentido lato (classe, raça/etnia, gênero), como a de futuros sanitaristas ou pesquisadores em saúde, tendo em vista o despertar do interesse e da sensibilidade discentes para o tema. A partir da conexão de suas próprias experiências e vivencias cotidianas como jovens, mulheres e homens, com pertencimentos étnico-raciais distintos, filiação de classe e inserção religiosa, temos assistido um processo de amadurecimento pessoal e profissional em nossos(as) estudantes que nos comprovam a fecundidade do ensino nessa direção. ; The objective of this study is to reflect, based on our experience as teachers of the undergraduate course in Public Health of the Federal University of Rio de Janeiro, on the teaching of gender issues for students under professional training in the health field. By accepting the challenge proposed in this dossier, we sought to analyze how this bachelor's degree—interdisciplinary by nature— has been explored daily and in a practical manner by social sciences, particularly by theories that approach the genre as an analytical category and an important conceptual tool for a critical and political understanding of social reality. We believe that such learning is essential for a more engaged action with social inequalities (class, race/ethnicity, gender) as future sanitarians or health researchers, in order to awaken students' interest and sensibility to the subject. Based on the connection between their own daily experiences as young people, women and men, with distinct ethnic and racial backgrounds, class affiliation and religious inclusion, we have witnessed a process of personal and professional maturity in our students, which proves us the fecundity of teaching in this manner.
<p>Subsidiadas pelos estudos críticos sobre gênero e ciência, propomos uma reflexão a respeito das concepções sobre parto e amamentação humanizados em blogs e sites de mães que se identificam como "mamíferas". Observamos que as narrativas analisadas apoiam-se em evidencias cientificas para legitimar o ideário da humanização e a noção de que as mulheres são uma extensão da natureza. Paradoxalmente, as matérias demonstram que a defesa da humanização do parto e da amamentação está ancorada em um determinismo biológico, cujos efeitos no sentido da perpetuação das relações desiguais de gênero já foram há décadas apontados por estudos feministas. Problematizamos a noção de natureza expressa nas "redes mamíferas" a fim de desatar seus nós biologizantes e resgatar a potência política do ativismo nas redes sociais de mães.</p>