Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a não-patrimonialização da herança da população cabocla pelos governos dos estados do Paraná e Santa Catarina, bem como do governo federal. Surge do questionamento sobre as características da relação entre o patrimônio e o território, na compreensão de que são dois elementos consubstanciais e inseparáveis. Assim, entendemos que o patrimônio dos Caboclos participa na territorialização da região do Contestado. Como procedimento metodológico, utilizamos a revisão de literatura e a observação participante. Nossa análise nos permite entender que o desprezo dos governos estaduais da região e do governo federal está relacionado à própria missão do Estado, na medida em que este está vinculado organicamente à classe dominante. No entanto, apesar da precariedade dos municípios da região, sem o apoio dos governos estaduais da região do Contestado e do governo federal, dos municípios em conjunto com algumas organizações da sociedade civil local, rompem o silêncio e lutam pela patrimonialização de sua herança.
Este artigo analisa as implicações na implementação da Lei 11.645/2008 como uma política pública, social e educacional relevante para o ensino da história dos povos indígenas e sua contribuição na formação do povo brasileiro. A pesquisa teve como in loco duas escolas de Ensino Fundamental não indígena que contavam com alunos indígenas matriculados. Um trabalho que, mediante consulta a base Scientific Electronic Library Online (SCIELO), apresenta uma pesquisa inédita, na qual os alunos indígenas, gestores, professores e Equipe Multidisciplinar materializaram situações que refletem os limites da implementação da Lei 11.645/2008 nas escolas públicas do Brasil. As instituições estão localizadas na cidade de Guaíra no estado do Paraná, num cenário de violação dos direitos, preconceito, discriminação e conflitos entre fazendeiros e indígenas Guarani na luta pela retomada das terras. Pautou-se pela metodologia qualitativa de cunho etnográfico ancorados em autores tais como: Luciano (2006); Kastelic (2014a, 2014b) Brasil (1998; 1996; 2003;2004;2008); Arroyo (2011); Freire (2016) e outros.
O presente estudo, resultado de uma pesquisa qualitativa, objetiva analisar a relação do(a) adolescente em cumprimento de medida socioeducativa com a escola, localizando o direito à educação enquanto política integrante a Doutrina da Proteção Integral, prevista no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e estruturante do Sistema de Atendimento Socioeducativo. Conhecer a relação dos(as) adolescentes com a escola é importante, pois pode colaborar tanto na compreensão da prática do ato infracional quanto do percurso formativo escolar desses sujeitos. As narrativas dos(as) adolescentes, sujeitos desta pesquisa, apontam que esta é uma relação complexa e paradoxal atravessada por elementos de negação e afirmação. Neste sentido, a escola se constitui como um espaço institucional que abriga outros lugares que se entrelaçam, e é caracterizada nesse trabalho como o lugar do direito, o lugar da resistência e o lugar do reconhecimento.
Higher education programs in Brazil, especially those in business administration, have been historically established and designed by the upper classes for their political and developmentalist interests. The affirmative action of reserving places for indigenous people in the Brazilian public universities – such as in the case of the state universities of Paraná, from 2001 – became an important novelty. This policy, however, has been criticized by indigenous students given the existing barriers in the educational structure, which disregards dilemmas experienced by these students in their ethnic-community and academic spaces. The objective of this study is to identify and analyze the understandings, expectations, and dilemmas present in the educational paths of indigenous students enrolled in administration programs in the state universities of Paraná, Brazil. The testimony strategy was used to understand and analyze the educational experiences of indigenous students. The research indicated what it is like to be an indigenous higher education student of administration in the academic and ethnic-community spaces, besides pointing out anxieties regarding the world of work as indigenous administrators. ; Históricamente, la educación superior, especialmente en la carrera de administración en Brasil, fue creada y perfeccionada por las clases dominantes, por sus intereses políticos y de desarrollo. Las iniciativas de reserva de vacantes para que indígenas estudien en las universidades públicas brasileñas, como en el caso de las universidades públicas del estado de Paraná a partir del año 2001, pasaron a ser una novedad importante pero cuestionada por los estudiantes indígenas, debido a las barreras planteadas en la estructura educativa brasileña que no contempla la denominada pertenencia étnico-comunitaria y académica de los estudiantes. El objetivo general de este estudio es identificar y analizar cuáles son las interpretaciones, expectativas y dilemas presentes en los itinerarios formativos de los estudiantes indígenas de los cursos de administración de las universidades públicas del estado de Paraná. En busca de ese conocimiento, se recurrió a la historia de vida ‒ por medio de la estrategia del testimonio‒ para comprender y analizar las experiencias de los indígenas con relación a su recorrido formativo. La investigación dio indicios de lo que es ser un estudiante indígena de administración en el espacio académico y étnico-comunitario, así como señaló anhelos con respecto al mundo del trabajo. Teóricamente, el estudio aportó una perspectiva más restringida a la doble pertenencia, al eximirse de una visión macro. ; Historicamente, a educação superior, em especial nos cursos de administração no Brasil, foi criada e aperfeiçoada pelas classes dominantes e seus interesses políticos e desenvolvimentistas. As iniciativas de reserva de vagas para indígenas estudarem nas universidades públicas brasileiras, como no caso das universidades estaduais do Paraná, a partir de 2001, passaram a ser uma novidade questionada por esses estudantes, por meio de barreiras levantadas na estrutura educacional não contemplativas do chamado pertencimento étnico-comunitário e acadêmico dos estudantes. O objetivo geral deste estudo é identificar e analisar quais as compreensões, expectativas e os dilemas presentes nos percursos formativos dos estudantes indígenas dos cursos de administração das universidades estaduais paranaenses. Em busca desse conhecimento, a história de vida, por meio da estratégia do testemunho, foi utilizada para compreender e analisar as experiências dos indígenas relativas aos seus percursos formativos. A pesquisa indicou pistas do que é ser um acadêmico de administração indígena no espaço acadêmico e étnico-comunitário, além de apontar anseios com relação ao mundo do trabalho. Teoricamente, o estudo trouxe uma perspectiva mais restrita ao duplo pertencimento, saindo de uma visão macro.
A atuação de profissionais indígenas formados pelas universidades públicas brasileiras é um fenômeno recente, sendo o Paraná, desde 2002, pioneiro na implementação de ações dessa natureza. Resultado de pesquisas realizadas, esse trabalho intenciona refletir sobre as trajetórias dos acadêmicos indígenas e a emergência de profissionais Kaingang na constituição de novos circuitos de trabalho, voltados à gestão de políticas sociais. Essas trajetórias evidenciam o duplo pertencimento desses sujeitos e a assunção das contradições envoltas nesse processo.