Os multimilionários custam caro para o país. Ao se apropriarem de modo desmedido da riqueza socialmente produzida são tóxicos para a economia, nefastos para a democracia e causam prejuízos incalculáveis ao bem comum. Privilégios sem obrigações, cupidez irresponsável, incivismo fiscal são alguns dos elementos que fazem o Brasil um dos países mais desiguais do planeta e, portanto, um dos mais injustos.Nesses últimos 30 anos, impulsionadas pela rapinagem financeira, as classes abastadas brasileiras conseguiram ampliar suas fortunas e seu poder garantindo a dominação de classe. A riqueza continua mitificada e mistificada apesar do apoio ao autoritarismo obscurantista, apesar da ganância desmedida, da avidez desenfreada e dos comportamentos incivilizados. (Tomo Editorial)
Neste artigo, são analisadas as principais características e significados de um segmento específico dos detentores de altas fortunas provenientes da extração da riqueza na economia globalizada. Milionários e bilionários são designados pelos gestores financeiros como High Net Worth Individuals (HNWIs). Eles não constituem uma classe social com identidade, coesão e mobilização coletiva a partir de interesses homogêneos e articulados. Mas, como componentes dos setores dominantes internacionalizados, eles possuem alto poder econômico e político, com impactos significativos sobre a realidade social. Os HNWIs estão no centro do processo de agudização das desigualdades socioeconômicas nos últimos 20 anos e se caracterizam por três aspectos: a) desvinculação de dimensões físicas do capital e ausência de amarras nacionais; b) personificação das fortunas; c) faustuoso padrão de vida, que contrasta, de maneira acentuada, com o restante da população. O argumento central deste artigo é que, ao se analisar a estrutura social, é necessário considerá-la como um todo integrado e articulado, pois os polos riqueza e pobreza não são autoexplicativos e, menos ainda, autônomos. Considerando-se a importância da escala na posse da riqueza, é possível entender como ela assegura impunidade, privilégios e poder para minorias específicas, ampliando as desigualdades e a produção da pobreza. PALAVRAS-CHAVE: riqueza, poder, classes sociais, desigualdades socioeconômicas. WEALTH AND INEQUALITIES Antonio David Cattani In this paper the main characteristics and meanings of a specific segment of the holders of high fortunes coming from extraction of wealth in the globalized economy are analyzed. Millionaires and billionaires are designated by the financial managers as High net worth individuals (HNWIs). They don't constitute a social class presupposing identity, cohesion and collective mobilization from homogeneous and articulate interests. But, as components of the internationalized dominant sectors they possess high economical and political power with significant impacts on social reality. HNWIs are in the center of the process of acutization of the social and economic inequalities in the last 20 years and they are characterized by three aspects: the) desvinculation of physical dimensions of the capital and absence of national roots; b) personification of fortunes; c) ostentatious standard of living contrasting in a marked way to the remaining of the population.The central argument of this paper is that analyzing the social structure, it is necessary to consider it as an whole, integrated and articulate, the extremes wealth and poverty not being self-explanatory and even less autonomous. Considering the importance of the scale in the wealth ownership, it is possible to understand how it her assures impunity, privileges and power for specific minorities, enlarging the inequalities and the production of the poverty. KEYWORDS: wealth, power, social classes, social and economic inequalities. RICHESSE ET INEGALITES Antonio David Cattani Cet article analyse le sens et les principales caractéristiques d'un segment spécifique de propriétaires de grandes fortunes issues de l'extraction de la richesse dans l'économie mondiale. Les millionnaires et les milliardaires sont désignés par les gestionnaires financiers comme des High net worth individuals (HNWIs). Ils ne forment pas une classe sociale qui suppose une identité, une cohésion et une mobilisation collective à partir d'intérêts homogènes et articulés mais, en tant que composante des secteurs internationalisés dominants, ils possèdent un pouvoir économique et politique élevé ayant des impacts importants sur la réalité sociale. Les HNWIs sont au coeur du processus d'aggravation des inégalités socioéconomiques au cours des 20 dernières années. Trois aspects les caractérisent: a) l'absence de la dimension physique du capital et de liens nationaux; b) la personnification des fortunes; c) des niveaux de vie fastueux qui contrastent nettement avec le reste de la population. L'argument central de cet article est que, lorsqu'on fait l'analyse de la structure sociale, il faut considérer cette dernière comme un tout intégré et articulé, les pôles de richesse et de pauvreté ne sont pas auto explicatifs et bien moins encore autonomes. Si l'on prend en considération l'importance de l'échelle de possession des richesses, il est possible de comprendre comment elle garantit l'impunité, les privilèges et le pouvoir pour des minorités spécifiques tout en augmentant les inégalités et en créant plus de pauvreté. MOTS-CLÉS: richesse, pouvoir, classes sociales, inégalités socioéconomiques. Publicação Online do Caderno CRH: http://www.cadernocrh.ufba.br
Neste artigo, são analisadas as principais características e significados de um segmento específico dos detentores de altas fortunas provenientes da extração da riqueza na economia globalizada. Milionários e bilionários são designados pelos gestores financeiros como High Net Worth Individuals (HNWIs). Eles não constituem uma classe social com identidade, coesão e mobilização coletiva a partir de interesses homogêneos e articulados. Mas, como componentes dos setores dominantes internacionalizados, eles possuem alto poder econômico e político, com impactos significativos sobre a realidade social. Os HNWIs estão no centro do processo de agudização das desigualdades socioeconômicas nos últimos 20 anos e se caracterizam por três aspectos: a) desvinculação de dimensões físicas do capital e ausência de amarras nacionais; b) personificação das fortunas; c) faustuoso padrão de vida, que contrasta, de maneira acentuada, com o restante da população. O argumento central deste artigo é que, ao se analisar a estrutura social, é necessário considerá-la como um todo integrado e articulado, pois os polos riqueza e pobreza não são autoexplicativos e, menos ainda, autônomos. Considerando-se a importância da escala na posse da riqueza, é possível entender como ela assegura impunidade, privilégios e poder para minorias específicas, ampliando as desigualdades e a produção da pobreza.
As desigualdades socioeconômicas estão aumentando em todos os sentidos, e isso está articulado à expansão contraditória do capitalismo. Após algumas décadas de vigência de processos inclusivos, o capitalismo restabeleceu sua lógica inexorável de exploração, fundamentada no aproveitamento pático das desigualdades. As alternativas à dinâmica excludente não parecem barrar os efeitos socialmente negativos. O grande desafio colocado para as Ciências Sociais é recuperar a capacidade de análise crítica dos processos fundamentais, identificando os limites e as possibilidades das alternativas em construção. PALAVRAS-CHAVE: desigualdades, inclusão social, exclusão social, alternativas ao capitalismo, economia solidária. GROWING INEQUALITIES AND ALTERNATIVES BEING DEVELOPED The socioeconomic inequalities are increasing in all directions in connection with the contradictory expansion of capitalism. After some decades of inclusive processes that were in force, capitalism reestablished its inexorable exploitation logic, resorting to the shameful inequality background. The alternatives to the excluding dynamics do not seem to refrain the socially negative effects. Social Sciences have to face the challenge of restoring the capacity of reviewing the essential processes, identifying the limits and possibilities of the alternatives being constructed. KEY WORDS: inequalities, social inclusion, social exclusion, alternatives to capitalism, solidary economy. LA CROISSANCE DES INEGALITES ET LES ALTERNATIVES EN COURS Les inégalités socioéconomiques, liées à l'expansion contradictoire du capitalisme, sont en train d'augmenter. Suite à des processus d'inclusion en vigueur pendant quelques décennies, le capitalisme a rétabli sa logique inexorable d'exploitation basée, dans la pratique, sur le profit des inégalités. Les alternatives s'opposant à une dynamique d'exclusion ne semblent pas avoir la force de s'opposer aux effets socialement négatifs. Pour les Sciences Sociales, le grand défi est d'être à nouveau capable de faire une analyse critique des processus fondamentaux et d'identifier les limites et les possibilités des alternatives en cours. MOTS-CLÉS: inégalités, inclusion sociale, exclusion sociale, alternatives contre le capitalisme, économie solidaire. Publicação Online do Caderno CRH: http://www.cadernocrh.ufba.br
Sofismas da riqueza / Antonio David Cattani -- Bases tributárias brasileiras: penalizando os pobres e beneficiando os rentistas / Fátima Gondim Farias e Marcelo Lettieri Siqueira -- "Bolsa rico" / Maria Lucia Fattorelli -- A injustiça fiscal no financiamento das políticas sociais / Evilasio Salvador -- Paraísos fiscais: inferno para as finanças públicas e para o bem comum / Marcelo Ramos Oliveira -- Crimes tributário-fiscais: a impunidade incentivada pela lei e pela jurisdição / Douglas Fischer -- O sistema previdenciário como fator de desigualdade / Brian Nicholson -- Imposto sobre as grandes fortunas / Alverto Amadei Neto -- Os amigos da justiça social / Antonio David Cattani e Marclo Ramos Oliveira
Este artigo analisa a possibilidade de uma política pública na área do planejamento urbano promover a superação da pobreza na medida em que incorpore estratégias ligadas ao desenvolvimento local e às metodologias participativas. A pesquisa empírica foi realizada no Programa Integrado de Recuperação de Áreas Degradadas (Pirad), desenvolvido pela Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) no estado do Rio Grande do Sul, através de análise documental, observação participante, entrevistas semiestruturadas com técnicos e beneficiários, e estudo de caso numa das comunidades envolvidas. A articulação entre política pública, desenvolvimento local e metodologias participativas gerou impactos voltados para a superação emancipatória e sustentável da pobreza através do fortalecimento da participação da população como cogestora do Programa, da ativação de recursos locais e da articulação de ações setoriais no território.