O objetivo desse texto é refletir sobre as experiências da "montagem" e "desmontagem" dos corpos e do "passar por" ou não "passar por" homem e/ou mulher de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Utiliza-se nesta análise as/os autoras/es oriundas/os da teoria feminista e do pensamento de foucaultiano, muitos/as da linha teórica queer, e outras/os pós-estruturalistas. Do ponto de vista metodológico, os dados são oriundos de pesquisa online e offline, envolvendo etnografia e entrevistas, não com foco nos sujeitos em si, mas no regime de visibilidade/conhecimento que os envolvem. Conclui-se, entre outras coisas, que parte das experiências analisadas almejam e conquistam, em diferentes contextos, reconhecimento enquanto, no máximo, diferentes, mas nunca como não normais, ainda que, em certa medida, possam recusar corajosamente parte das expectativas de muitas normas e convenções sociais.
Este artigo discute regime de visibilidade a partir da experiência de uma travesti que vive na cidade de Corumbá, MS. A cidade fica no Pantanal e faz fronteira com a Bolívia. Por meio de etnografia, percebe-se que a gestão da visibilidade em termos de gênero e sexualidade não deixa passar incólume os códigos e valores da realidade pantaneira, como, por exemplo, a onça pintada e a sucuri, animais espetacularizados pela mídia e hiper valorizados pelos turistas. Esses animais são compreendidos na análise como agindo de forma cultural-natural. Através de referencial teórico multidisciplinar, que vão dos estudos de gênero aos fronteiriços e pantaneiros, a onça pintada e a sucuri são problematizadas como sendo performáticos e protéticos. Os relatos de campo contam sobre a incorporação e a performance da travesti com esses animais em eventos públicos na cidade, como o Amistoso da Diversidade e o Carnaval. Conclui-se que, considerando a realidade fronteiriça e pantaneira, o regime de visibilidade estrategicamente manipulado pela travesti e por outros/as efeminados/as da cidade, os/as colocam em um lugar de reconhecimento social diante de diferentes grupos da cidade, além de produzir uma diferenciação valorativa da identidade nacional diante de um "Outro" desvalorizado.
Resumo Neste artigo, analiso as experiências de (não) passar por homem e/ou mulher enquanto performances contemporâneas de feminilidades e masculinidades de modo a ir além da compreensão de um sujeito totalmente autônomo diante de suas experiências de gênero e sexualidade, e a não tomá-lo tampouco a partir de uma ideia de determinismo cultural. A partir de etnografia de espaços on-line e off-line, entrevistas e análise documental, discuto a identificação e o desejo de reconhecimento de diferentes interlocutores considerando alguns marcadores sociais da diferença. Concluo que o (não) passar por se dá pela agência diante de vários elementos, em um contexto de valorização das diferenças, mas de rechaços e discriminações aos diferentes em demasiado.
A partir de uma pesquisa com adolescentes travestis da cidade de Campinas, este texto procura refletir a respeito de questões teóricas, políticas e metodológicas que envolvem a temática do gênero e da sexualidade na contemporaneidade. Procura valorizar a necessidade de se estudarem mais as convenções e as normas sociais do que focar no indivíduo em si. Pensa a questão subjetiva e corporal do/da pesquisador/a em contato com os/as interlocutores/as e problematiza a neutralidade científica em etnografias que envolvem experiências trans. Além disso, contextualiza a reflexão queer e os dilemas que envolvem a produção do conhecimento situado.
Este artigo objetiva analisar a experiência do "segundo armário" a partir dos conteúdos de três canais sobre HIV- AIDS do YouTube criados por jovens brasileiros assumidamente soropositivos e gays. Eles são tomados enquanto artefatos culturais, isto é, propositores de currículos e pedagogias culturais. O "segundo armário" é entendido como um regime de visibilidade. Diferente do "armário gay", o primeiro, focado na sexualidade, este segundo envolve o conhecimento sobre a soropositividade para o HIV. Metodologicamente utilizou-se de etnografia on-line, sendo empregado o preenchimento de fichas, uma espécie de caderno de campo, para cada um dos vídeos assistidos dos três canais e os comentários da audiência de cada um deles. A discussão teórica foi feita a partir de teorias pós-críticas. Conclui-se que a era digital permite a produção curricular-pedagógica do HIV-AIDS ainda marcada por estigmas, mesmo com os avanços no campo dos antirretrovirais. Além disso, conclui-se que essa produção dos artefatos envolve pessoas de diferentes perfis identitários. Chama-se a atenção para a necessidade de um retorno à discussão das vulnerabilidades em meio às conquistas fármaco-tecnológicas e à valorizada visibilidade digital das pessoas vivendo com HIV e de sua audiência.
Este artigo objetiva analisar a configuração da performance drag diante de uma sociedade que regula corpos de acordo com suas normas. Isso é feito a partir da compreensão da corporalidade, teatralidade e temporalidade das participantes do concurso "Corrida das Drags", na cidade de Campo Grande, estado de Mato Grosso do Sul. O referencial teórico adotado é dos estudos subalternos. Através do levantamento bibliográfico, da etnografia realizada durante as apresentações, das entrevistas com os interpretes das drags, conclui-se: a) há agência nas performances drag, a partir do desejo de se montar, que carrega significações e pode reiterar ou não as normas sociais; b) a "matéria prima" desta agência são seus corpos, pois são neles que ocorrem as intersecções mediadas sócio-culturalmente, c) diferentemente do que a teoria da performatividade butleriana apontou em outros contextos e período, nesse estudo observou-se que as drags têm como referencial não somente a mulher, mas outras drags.
Este artigo analisa o uso do nome social por pessoas trans (travestis, transexuais e não binários/as) em uma universidade pública no Centro-Oeste brasileiro. Por meio de entrevistas semiestruturadas e do referencial teórico pós-crítico em Educação, são discutidas as experiências de quatro universitárias em busca do reconhecimento, pelo nome, do gênero com que se identificam. Aponta-se o quanto o nome social torna-se importante, mas não necessariamente resolve todas as dificuldades de acesso e permanência no Ensino Superior. A análise qualitativa dos dados indica as fragilidades legais que instituem o uso do nome social e, ao mesmo tempo, os limites culturais normativos dos processos de produção das identidades de gênero em uma perspectiva pós-identitária, isto é, para além dos sujeitos trans em si. Conclui-se que o uso do nome social compõe um regime de visibilidade de gênero que favorece uma "camuflagem", permitindo uma certa "vida social", estrategicamente agenciada em diferentes contextos, especialmente na universidade.
RESUMO As inquietações aqui apresentadas foram suscitadas a partir de duas pesquisas em contextos e temporalidades distintas e que atravessam a trajetória dos autores no Mato Grosso do Sul. A primeira deu-se em decorrência dos diálogos travados por um dos autores com jovens efeminadas (gays, travestis, transexuais) na cidade de Corumbá-MS, na fronteira com a Bolívia. A segunda, foi resultado do diálogo de dois dos autores com jovens indígenas Kaiowá da Terra Indígena (TI) de Panambizinho, localizada a aproximadamente 20km de Dourados-MS, no distrito de Panambi. Por meio de uma perspectiva interdisciplinar, sustentada numa análise qualitativa, intenta-se refletir sobre os dilemas e possibilidades que cercam a relação entre minorias e a escola na contemporaneidade a partir de um ponto de vista interseccional. Como resultado, a compreensão de que se a escola continua em vários momentos a se produzir como um espaço de docilização de corpos e subjetividades, de outro, a constante capacidade de negociação e agenciamento dos sujeitos que a enredam.Escola. Marcadores sociais. Minorias. Agenciamentos. Agency and intersectionality in court: concerns about schools and differences in Mato Grosso do SulABSTRACT The concerns presented here were raised from two researches in different contexts and temporalities that cross the trajectory of the authors in Mato Grosso do Sul. The first occurred as a result of the dialogues carried out by one of the authors with effeminate young people (gays, transvestites), transsexuals) in the city of Corumbá-MS, on the border with Bolivia. The second was the result of the dialogue between two of the authors with young Kaiowá indigenous people from the Indigenous Land (TI) of Panambizinho, located approximately 20km from Dourados-MS, in the Panambi district. Through an interdisciplinary, sustained perspective in a qualitative analysis, we intend to reflect on the dilemmas and possibilities that surround the relationship between minorities and the school in contemporary times from an intersectional point of view. As a result, the understanding that if the school continues at various times to produce itself as a space for the docilization of bodies and subjectivities, on the other, the constant capacity for negotiation and agency of the subjects who enmesh it.School. Social markers. Minorities. Agency. Agencia e interseccionalidad en la corte: preocupaciones por las escuelas y diferencias en Mato Grosso do SulRESUMENLas inquietudes presentadas aquí han sido planteadas por dos investigaciones en diferentes contextos y temporalidades que cruzan la trayectoria de los autores en Mato Grosso do Sul, travestis, transexuales) en la ciudad de Corumbá-MS, en la frontera con Bolivia. El segundo fue el resultado del diálogo entre dos autores con el joven indígena Kaiowá de la Tierra Indígena (TI) de Panambizinho, ubicado a unos 20 km de Dourados-MS, en el distrito de Panambi. Mediante una perspectiva interdisciplinaria, respaldada por un análisis cualitativo, pretendemos reflexionar sobre los dilemas y las posibilidades que rodean la relación entre las minorías y la escuela en los tiempos contemporáneos desde un punto de vista interseccional. En consecuencia, el entendimiento de que si la escuela continúa produciéndose en varias ocasiones como un espacio para la docilización de cuerpos y subjetividades, por otro lado, la constante capacidad de negociación y agencia de los sujetos que la involucran.Escuela. Indicadores sociales. Minorías. Agencia. Agenzia e intersezionalità in tribunale: preoccupazioni per le scuole e differenze nel Mato Grosso do Sul SINTESE Le preoccupazioni qui presentate sono state sollevate da due ricerche in contesti e temporalità diversi che attraversano la traiettoria degli autori nel Mato Grosso do Sul. , travestiti, transessuali) nella città di Corumbá-MS, al confine con la Bolivia. Il secondo è stato il risultato del dialogo tra due autori con i giovani indigeni Kaiowá della Terra indigena (TI) di Panambizinho, situato a circa 20 km da Dourados-MS, nel distretto di Panambi. Attraverso una prospettiva interdisciplinare, supportata da un'analisi qualitativa, intendiamo riflettere sui dilemmi e sulle possibilità che circondano la relazione tra le minoranze e la scuola nei tempi contemporanei da un punto di vista intersezionale. Di conseguenza, la comprensione che se la scuola continua in varie occasioni a prodursi come spazio per la docilizzazione di corpi e soggettività, dall'altra la costante capacità di negoziazione e di agenzia delle materie che la coinvolgono.Cuola. Indicatori sociali. Minoranze. Agenzia.