A tecnologia está intensamente presente em nosso mundo. Ela constitui também um elemento fundamental na construção do ordenamento social e está intrinsecamente ligada a relações de poder. Como tal, constitui um campo de contestação e disputa política, no qual interesses e projetos se enfrentam. Apesar de sua relevância, processos dessa natureza, entretanto, com frequência escapam de nossos olhares. Buscando contribuir nesse sentido, este artigo pretende fomentar uma reflexão a respeito da dimensão política da tecnologia, tendo como ponto de partida o debate proposto por autores associados aos Estudos Críticos da Tecnologia, como Jacques Ellul, Langdon Winner e Andrew Feenberg.
A filiação às organizações da sociedade civil (OSCs) oportuniza o desenvolvimento de habilidades cívicas, de capital social e de competências e valores democráticos que propiciam a participação dos membros em práticas políticas. A implementação de práticas de retenção de membros nas OSCs pode aumentar a probabilidade dos membros de participar em atividades políticas. O problema de fraca participação política em Moçambique pode ser solucionado por meio das OSCs. Incentivando os cidadãos a se filiar às OSCs pode ser possível melhorar a participação política dos cidadãos no geral, a médio e longo prazo, por meio da interação de membros e não membros em diversos contextos.Palavras-chave: organizações da sociedade civil; capital social; retenção; participação política; Moçambique.
No início da década de 1970, a preocupação com uma melhor definição de práticas discursivas permeia o horizonte de pesquisas do filósofo francês Michel Foucault. A noção de acontecimento discursivo ganha proeminência em seu primeiro curso no Collège de France, Aulas sobre a vontade de saber. Apropriando-se daquilo que denomina "sistema Nietzsche", Foucault volta-se para a emergência de uma ética da verdade na Grécia clássica que não teria sua origem em um sistema filosófico como o de Aristóteles. Nessa perspectiva, o discurso verdadeiro seria um efeito de práticas muito diversas e teria sua conformação a partir de exigências político-econômicas e jurídico-religiosas. Com isso, a exclusão do raciocínio sofístico empreendida por Aristóteles seria o efeito último de uma série de transformações que permeiam os séculos VII e VI a.C. na Grécia, e não um acontecimento discursivo único e lapidar deste tipo de relação para com o discurso verdadeiro. Foucault quer mostrar que "um acontecimento é sempre uma dispersão; uma multiplicidade. É o que passa aqui e ali; é policéfalo".
Serafim, M., Dias, R. (2010). Construção social da tecnologia e análise de política: establecendo um diálogo entre as duas abordagens. Redes, 16(31), 61-73. ; Este artigo pretende explorar possibilidades de diálogo entre duas abordagens potencialmente complementares, porém até o momento desconectas: a construção social da tecnologia e a análise de política. Explora, para tanto, aspectos gerais e pontuais dos dois enfoques, buscando pontos de convergência e de complementaridade que poderiam ser trabalhados por autores das duas esferas, visando o aprimoramento desses referenciais teórico-metodológicos. ; This paper seeks to explore the possibility of a dialogue between two potentially complementary approaches, still not connected: social construction of technology and policy analysis. In order to explore both broad and punctual aspects of these two approaches, seeking points of convergence that could be developed by authors of both spheres, thus improving these theoretical and methodological approaches.
A matriz analítico-conceitual que marcou a política científica etecnológica após a 2a Guerra Mundial está associada à concepção linear darelação entre ciência, tecnologia e desenvolvimento. Ainda hoje, essa concepçãomantém sua força dentro da esfera da política científica e tecnológica.Existem, contudo, três enfoques que se propõem a questionar essa visão: oenfoque evolucionário (comumente tido como o único enfoque crítico), o pensamentolatino-americano em ciência, tecnologia e sociedade (PLACTS) e oque aqui chamamos de visão alternativa. O trabalho se propõe a analisarbrevemente cada um desses enfoques estilizados, estabelecendo algumas conexõesentre essas diferentes visões da relação ciência-tecnologia-desenvolvimentoe projetos políticos igualmente distintos.
Este ensaio é resultado parcial da produção e sistematização teórica e empírica desenvolvida no âmbito acadêmico no Programa de Pós-graduação em Geografia - Doutorado, da Universidade Federal do Pará (UFPA). O presente ensaio estuda as interfaces das Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural, em seu enfoque territorial, a partir do caso do Território Rural Centro-Oeste, no estado do Amapá. O objetivo norteador deste trabalho é realizar uma abordagem sobre o desenvolvimento rural, a partir de estratégia de Políticas Públicas que concentram a atenção à implantação de Territórios Rurais, com ênfase na temática de compreensão e reflexão do desenvolvimento rural no estado do Amapá, vinculados a sustentabilidade econômica e social em assentamentos rurais de reponsabilidade do INCRA. Apresentar-se-ão possíveis inovações na concepção de desenvolvimento e novas perspectivas de gestão territorial. A região Centro-Oeste do Amapá sempre reclamou, ao Estado, a ausência de Políticas Públicas que fossem responsáveis em viabilizar qualidade de vida aos seus moradores. O enfoque de atuação do Estado no espaço rural ampliou, deixando de ser meramente setorial e incorporou os aspectos territoriais. O enfoque territorial se destaca por sua forma de percepção da realidade através do (re)ordenamento do território agregando características socioeconômicas que conferem a algumas regiões identidades próprias.
Abstract Since 2004, the US Air Force (USAF) and the Central Intelligence Agency (CIA) have persecuted insurgents in Somalia, Yemen and Pakistan with armed drones. Despite its alleged efficiency, this practice has been widely criticised on the grounds that it contravenes international humanitarian law. In order to understand the controversies involving this practice, we examine how this new technology was linked to and allowed the emergence of a new US international security strategy first applied in the Middle East. Drawing on James Der Derian's post-structuralist theories about virtuous wars, the sociotechnical approach allowed by Science and Technology Studies (STS), and Gregoire Chamayou's theories about drones, we argue that the US intention in adopting these technologies was not to enhance its military capability but to allow the USA to remain active in several risky theatres while avoiding the political and social costs of conventional military engagement.
Abstract Since 2004, the US Air Force (USAF) and the Central Intelligence Agency (CIA) have persecuted insurgents in Somalia, Yemen and Pakistan with armed drones. Despite its alleged efficiency, this practice has been widely criticised on the grounds that it contravenes international humanitarian law. In order to understand the controversies involving this practice, we examine how this new technology was linked to and allowed the emergence of a new US international security strategy first applied in the Middle East. Drawing on James Der Derian's post-structuralist theories about virtuous wars, the sociotechnical approach allowed by Science and Technology Studies (STS), and Gregoire Chamayou's theories about drones, we argue that the US intention in adopting these technologies was not to enhance its military capability but to allow the USA to remain active in several risky theatres while avoiding the political and social costs of conventional military engagement.
Peron, A. E. R.; Dias, R. B. (2017). O reordenamento sociotécnico dos conflitos contemporâneos e o imaginário de "guerra cirúrgica" com drones. Redes 23(44), 51-75. Bernal, Argentina : Universidad Nacional del Quilmes. ; En los últimos 15 años hemos sido testigos del aumento en el empleo de drones artillados en acciones militares, en concordancia con la evolución del discurso acerca de operaciones precisas y rápidas durante las administraciones de Bush y Obama. La legitimidad de tales conflictos se sustentaría en el imaginario de una guerra quirúrgica, caracterizada por el supuesto de que la precisión y la superioridad técnica de esos equipamientos podría "humanizar" la llamada "guerra contra el terrorismo". Sin embargo, la práctica de asesinatos extrajudiciales nunca fue considerada legítima, dado que sucede de un modo extremadamente controversial y políticamente perturbador. Partiendo de la concepción de las operaciones militares como un sistema sociotécnico y el desarrollo de nuevas tecnologías, dispositivos y doctrinas bélicas como un proceso de reordenamiento de esas operaciones, este trabajo apunta a debatir en torno al drone Predator MQ-1 como artefacto sociopolítico. Nuestro principal argumento es que, durante el proceso de construcción y cierre de esa tecnología, diversas instituciones como la CIA y la Fuerza Aérea de los Estados Unidos habrían proyectado en su estructuración la intención de superar o eludir los límites legales de la guerra contra el terrorismo. Esto garantizaría al gobierno estadounidense y su Departamento de Defensa la supresión de las restricciones políticas para continuar con sus acciones en el exterior. ; Nos últimos 15 anos testemunhamos um aumento no emprego de drones armados em ações militares, em decorrência da evolução do discurso de operações precisas e rápidas, durante as administrações de Bush e Obama. A legitimidade desses conflitos se sustentaria pelo imaginário de uma guerra cirúrgica, caracterizada pela suposição de que a precisão e superioridade técnica desses equipamentos poderia "humanizar" a chamada Guerra ao Terror. Contudo, as práticas de Assassinatos Extrajudiciais nunca foram consideradas legítimas, uma vez que o modo como ela ocorre é extremamente controverso e politicamente conturbado. Assim, ao compreendermos as operações militares enquanto um sistema sociotécnico e o desenvolvimento de novas tecnologias, dispositivos e doutrinas de guerra como um processo de reordenamento dessas operações, esse trabalho busca discutir o drone Predator MQ-1 como artefato sociopolítico. Nosso principal argumento é que, durante o processo de construção e fechamento dessa tecnologia, diversas instituições como a CIA e a Força Aérea dos EUA teriam projetado em sua estruturação, as suas intenções em superar ou driblar os limites legais da guerra ao terror. Isso garantiria ao governo e ao Departamento de Defesa a eliminação dos constrangimentos políticos em prosseguir continuadamente com suas ações no exterior. ; Over the last 15 years, we have been baring witness to an increase in the use of armed drones in military actions, due to the evolution of the discourse regarding precise, swift operations during the Bush and Obama administrations. The legitimacy of these conflicts is sustained by the imaginary of surgical warfare, defined by the assumption that precision and technical weaponry superiority could "humanize" the so-called War on Terror. However, extrajudicial killings were never considered legitimate, since they occur under controversial and unclear conditions. Thus, by understanding military operations as a sociotechnical system and the development of new technologies, devices and war doctrines as process that re-ordains these operations, this paper seeks to debate the Predator MQ -1 drone as a sociopolitical artifact. Our main argument is that during the development of this technology, several institutions, such as the CIA and the US Air Force have shaped the sociotechnical conditions that enabled the legal limits of the war on terror. This would guarantee the suppression of political constraints to the government and the Department of Defense in continuing their actions in foreign lands.