O texto tematiza as relações entre discurso jurídico e racismo institucional no Brasil. Trata, especificamente, da violência silenciosa contida na forma como o próprio discurso jurídico qualifica (ou não qualifica) as violências das formas de gestão dos espaços urbanos e dos espaços de encarceramento. Empenha-se em compreender o papel dos juristas na reprodução dessa violência cotidiana. Para exemplificar, propõe a interpretação dos textos de Eugênio Raúl Zaffaroni sobre as relações entre a violência institucional e o papel de uma dogmática penal crítica para conter a seletividade da agência policial. Desde o Realismo Marginal (e de sua crítica), sugere que a branquidade é essencial para entender os limites das melhores propostas de reconstrução da dogmática, pois a formação tradicional acadêmica provoca efeitos concretos de violência sobre os corpos negros. Logo, a crítica à dogmática penal necessita ser situada para além da crítica de suas promessas não realizadas. O processo de racialização dos saberes e das práticas jurídicas deve ser compreendido nas articulações entre o dito e o não-dito. Logo, deve incluir os não-ditos dessas promessas de racionalização da violência institucional, e nominar os que ficaram fora do pacto da branquidade de garantia de direitos.
O texto trata das relações entre a experiência de extensão de uma coletiva LGBTI+, caracterizada pela interseccionalidade, e o poder heterocisnormativo na universidade. Relata as experiências de ensino, pesquisa e extensão do Projeto "Corpolítica" que foram construídas desde a perspectiva de uma Coletiva LGBT de mesmo nome, criada na Universidade de Brasília (UnB) em 2014. Do ponto de vista metodológico, utiliza-se da memória compartilhada, da análise documental, entrevistas etc. Propõe a reflexão sobre o lugar marginal dessa produção e a impossibilidade de, efetivamente, ocupar as posições hegemônicas, sugerindo a utilização do termo "guerrilha" como categoría compreensiva dessas estratégias. Interroga os atuais modelos de Extensão Popular, ao demonstrar que a extensão pode também reproduzir dimensões de poder da "matriz heterossexual" (Judith Butler) ou investir numa sociabilidade afetiva de (des)construção das formas tradicionais de saber, sempre marcada pelo lugar de precariedade das sujeitas envolvidas e pela efemeridade das experiências nos espaços universitários. ; This paper addresses the teaching, research, and outreach experiences of an LGBTI+ collective's outreach project called "Corpolítica" (body politics), which was created in the University of Brasília (UnB) in 2014. The fundamental reflection analyses the cisgender and heteronormative power that structures the university, characterized by its intersectional approach. The methods used in this paper are: shared memory, document analysis, interviews, etc. The aim is to reflect on the peripheral space of this production and the impossibility of effectively occupy hegemonic positions, suggesting the use of the term "guerrilla" as a comprehensive category of those strategies. This paper also questions the current models of popular outreach, as it shows that outreach can also reproduce power dimensions of the "heterosexual matrix" (Judith Butler), or invest in an effective sociability of (de)construction of traditional forms of knowledge, always marked by the precarious situation of the subjects involved and the momentary experiences in the university sphere. ; El texto relata diversas experiencias de enseñanza, investigación y extensión del proyecto "Corpolítica: diálogos sobre género, sexualidad, raza y derechos con jóvenes en espacios urbanos periféricos en el Distrito Federal", que fueron construidas desde la perspectiva de una Colectiva LGBTI+ del mismo nombre. La reflexión central aborda las relaciones entre la experiencia de extensión de la colectiva, caracterizada por la interseccionalidad, y el poder heterocisnormativo en la Universidad. Desde el punto de vista metodológico, utiliza diversas estrategias: memoria compartida, análisis documental, entrevistas, etc. Propone la reflexión sobre el lugar marginal de esa producción y la imposibilidad de, efectivamente, ocupar las posiciones hegemónicas, lo que sugiere la utilización del término guerrilla. El texto interroga a los actuales modelos de extensión popular al demostrar que la extensión puede también reproducir dimensiones de poder de la matriz heterosexual (Judith Butler) o invertir en una sociabilidad afectiva de (de)construcción de las formas tradicionales de saber, siempre marcada por el lugar de precariedad de las involucradas y de lo efímero de las experiencias en los espacios universitarios.