Performatividade e tecnologias de gênero em Elisa e Marcela, de Isabel Coixet
In: Cadernos de gênero e tecnologia, Band 14, Heft 43, S. 229
ISSN: 1807-9415
Elisa e Marcela (2019), filme escrito e dirigido por Isabel Coixet, recorre a procedimentos cinematográficos formais "estranhos" à contemporaneidade (como a fotografia preto e branco), para trazer à tona a história real do primeiro casamento entre duas mulheres na Espanha do século XX, Marcela Gracia Ibeas e Elisa Sánchez Loriga. O possível estranhamento também atravessa a produção de sentidos, com a utilização de elementos peculiares para compor as cenas de sexo. O que não impede, mas corrobora com a construção de uma narrativa mais empática e menos triste sobre vidas lésbicas. Coixet, como uma constante em sua produção cinematográfica, desvela protagonistas mulheres de extrema força e resiliência. É através destes e outros elementos do filme que analisamos como a partir da tecnologia-dispositivo cinema ocorre a fabricação de uma identidade de gênero e sua performatividade, demarcando a transgressão de gênero como possibilidade de uma vida vivível, de redução do exílio social e da marginalização impostos pela potencialização da violência e pela lesbofobia. São os modos de viver e de se relacionar possíveis que procuramos destacar nesta produção cinematográfica de Coixet: (sobre)viver numa sociedade pautada pela cis-heterossexualidade compulsória e por técnicas de poder e regimes de verdades, onde a descontinuidade e a subversão da lógica cis-heteronormativa corpo-gênero-desejo-prática sexual colocam o amor entre duas mulheres no terreno do ininteligível, da criminalização e do patológico.