Este artigo se propõe a refletir sobre a relação entre universidade e sociedade a partir da atuação das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP). A questão que orienta o artigo é: a partir da experiência das ITCPs, é possível potencializar a construção de alternativas sociotécnicas coerentes com os valores da economia solidária, como a autogestão e a solidariedade? Com intuito de refletir sobre essas questões este artigo apresenta as contribuições dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (ESCT). A partir desse referencial teórico, analisa-se as visões de ciência e tecnologia na atuação das incubadoras. Por fim, nas considerações finais, apontamos algumas reflexões sobre a construção de alternativas sociotécnicas a partir da atuação das ITCPs e a necessidade de superar uma visão da ciência e da tecnologia como algo acabado, neutro e intrinsecamente positivo.
Dagnino, R., Fraga, L. (2010) Os estudos sobre ciencia, tecnología e sociedade e a educação: mais além da participação pública na ciência. Redes 16(31), 123-144. ; La ciencia y la tecnología (CyT) han estado siempre íntimamente relacionadas con la educación. Sin embargo, desde del campo de estudios conocido como Ciencia, Tecnología y Sociedad (CTS), se le ha prestado poca atención a la educación. El objetivo de este artículo es estudiar en forma conjunta estas dos áreas, con la intención de que las reflexiones producidas durante los últimos 50 años en el campo CTS puedan contribuir a la comprensión y a la superación de los problemas sociales y ambientales, entre otros, que enfrenta América Latina. Para esto discutimos las dificultades que ha tenido el campo CTS en la consecución de dos objetivos que consideramos fundamentales. En primer lugar, capacitar a los ciudadanos para que puedan relacionar los fenómenos científico-tecnológicos, con sus limitaciones y consecuencias, con su carácter social, político y ambiental. Y en segundo lugar, proveer a los políticos de ciencia y tecnología de un marco analítico conceptual que haga este proceso consistente con esa visión crítica. Esto es el resultado de esta doble movilización para reducir la distancia que existe entre las expectativas que la sociedad ha puesto en el desarrollo de la ciencia y la tecnología y el carácter que han asumido las políticas científicas y tecnológicas. ; Science and technology (S&T) have always been intrinsically related to education; however, since the emergence of the field of Studies on Science, Technology and Society (STS) education has received little attention. The objective of this article is to bring together studies on these two areas with the intention that the reflections produced by STS in the last 50 years can contribute to understanding and overcoming the social, environmental and other problems, facing Latin America. For this we discuss the difficulties STS has been having in achieving what we consider its two main objectives: to enable citizens to relate the scientific-technological phenomenon to its constraints and consequences of social, political, economic and environmental character. And, secondly, to provide policy makers of S&T a conceptual analytical framework that makes this process consistent with this critical approach. It is the result of this double motion the condition to reduce the gap between the expectations that society has placed on the development of S&T and the character that has assumed the Scientific and Technological Policy.
O texto discute como as experiências de agricultoras agroecológicas Sem Terra, e as diferentes esferas da relação que elas estabelecem com a terra, permitem revisitar e expandir o conceito de cuidado. Foram utilizadas entrevistas com quatro agricultoras assentadas, em associação com uma revisão conceitual sobre o histórico e as particularidades do acesso das mulheres à terra, e a teoria do cuidado enquanto conceito político feminista. A terra, nesse contexto, é interpretada em múltiplos significados: é um objeto de manejo, é um elemento dos fluxos biogeoquímicos, é território e é também uma fonte de identificação para as mulheres enquanto corpo que abriga a vida. As experiências cotidianas dessas mulheres evidenciam a abrangência das relações de cuidado, bem como a potência e necessidade política de construção desse conceito que abarca dimensões humanas e não humanas ao visibilizar a ecodependência das nossas vivências.
Ao partir do fato de que as agências de inovação apresentam um histórico predominantemente mercadológico, o artigo busca analisar sua complexa relação com a Tecnologia Social (TS), apresentando se, como e por que tais iniciativas são incluídas no cotidiano dessas instituições. Para tanto, fez-se um estudo multicaso com as agências Agir da Universidade Federal Fluminense e Inova da Universidade Estadual de Campinas. Foram realizadas entrevistas com seus dirigentes, bem como revisão bibliográfica sobre a temática. Os resultados apontam que ações de cunho socioambiental podem partir, por um lado, da Economia Solidária e, por outro, do Empreendedorismo Social. Contribuindo para uma compreensão inicial e exploratória sobre o tema, a pesquisa sugere que o fomento às iniciativas de TS deve ser feito em complemento àquele voltado ao desenvolvimento científico convencional, pois é a missão das agências, como parte da universidade, atuar em prol do enfrentamento das questões socioeconômicas.
O objetivo deste artigo é refletir sobre a abordagem de gênero integrada ao ensino de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) nos cursos de engenharia. Para isso, é explorada a proposta da educação CTS para os cursos de cunho tecnológico, com foco na potência que essa perspectiva traz para a discussão de temas frequentemente marginalizados ou omitidos nestes cursos. Em seguida, é realizada uma revisão sobre as relações entre gênero, ciência e tecnologia com foco em estudos que refletem sobre diferentes abordagens para o caso das engenharias. Por fim, ao articular as seções anteriores, são apresentadas reflexões sobre a possibilidade de que os estudos de gênero, assim como outros recortes relevantes para a construção de um currículo socialmente comprometido, sejam incorporados não somente às ementas das disciplinas de CTS, mas em toda a formação em engenharia.
Neste artigo fazemos uma releitura, com lentes feministas, de duas infl uências históricas do pensamento latino-americano sobre a tecnologia social. Em um primeiro momento, olhamos para o movimento independentista da Índia, na primeira metade do século xx, que incorpora à sua causa uma política de disseminação da charkha, uma espécie de roca de fi ar. Difundida no período em que Gandhi liderou o movimento, a fi ação passou a ser símbolo da luta nacionalista, e é tida como exemplo emblemático de alternativa sociotécnica. Em um segundo momento, analisamos o "movimento de tecnologia apropriada", como um conjunto de refl exões e iniciativas que se popularizam nos anos 1970 para a disseminação de tecnologias supostamente adequadas à realidade das regiões empobrecidas do sul. Ocupando-nos de preencher as lacunas analíticas de gênero, destacamos as contribuições de autoras que desvelaram o caráter androcêntrico de tais políticas, explicando como se produzem tecnologias inadequadas a partir da oclusão do trabalho das mulheres e das demandas comunitárias de cuidados no meio rural africano e asiático. Por fi m, tecemos conexões entre o gênero e a construção de alternativas sociotécnicas e argumentamos que é na invisibilidade do caráter feminizado do cuidar e na incorporação acrítica da lógica produtivista que a tecnologia social encarna o androcentrismo