¿Puede el derecho a la ciudad ser emancipatorio?: Presencias, ausencias y emergencias en la construcción del derecho a la ciudad en Brasil
Tese de doutoramento em em Pós-colonialismos e Cidadania Global, apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra ; Las actuales ciudades posmodernas se han desarrollado sobre la base de una lógica neoliberal que ha tenido graves consecuencias en términos de segregación y exclusión social. La contestación a este modelo urbano dio origen a la formulación teórica del derecho a la ciudad a finales de los años 60 (Lefebvre, 2009 [1968]). En América Latina, y especialmente en Brasil, el derecho a la ciudad se ha erigido desde finales de los 80 en una importante bandera política que ha articulado la voz de múltiples colectivos de la sociedad civil. Las movilizaciones que han tenido lugar en esta región, así como dentro del movimiento altermundialista, han contribuido a que esta narrativa arraigara también en otros países del mundo y fuera usada por un amplio abanico de actores. Como resultado de estos diferentes usos y apropiaciones (unos más emancipadores que otros), existe una notable ambigüedad conceptual en torno a este concepto, que hace necesarios ejercicios de análisis pormenorizados sobre su significado. Este trabajo persigue realizar una aportación en este sentido ahondando en la comprensión del derecho a la ciudad, no solo a partir de su formulación teórica, sino sobre todo a partir de cómo ha sido usado en el marco de luchas sociales. Uno de los principales objetivos del hecho de analizar esta noción "desde abajo" del derecho a la ciudad ha sido explorar en qué medida contribuye a dar voz a lo que se ha denominado en este trabajo los condenados de la ciudad, parafraseando a Fanon (2002 [1961]). Esta preocupación motiva la pregunta que da título al volumen: ¿Puede el derecho a la ciudad ser emancipatorio? Para responder a esta cuestión, la investigación explora de cerca la experiencia brasileña y, en particular, la que emana de la ciudad de São Paulo, donde se exploran las presencias, las ausencias y las emergencias de la articulación política del derecho a la ciudad. Para ello, se ha recurrido al método del estudio de caso alargado (Burawoy, 1991, 2009; Santos, 2009a) y a las lentes teóricas de los estudios poscoloniales, concretamente las epistemologías del Sur y la sociología de las ausencias y de las emergencias (Santos y Meneses, 2009; Santos, 2005). Para la identificación de algunas de las principales ausencias y emergencias del derecho a la ciudad, la hipótesis de trabajo manejada ha sido considerar el mundo de lo simbólico y del imaginario colectivo como espacios donde se manifiestan "vibraciones ascendentes" representativas de malestares sociales que no se articulan a través de movimientos sociales clásicos. Ante la creciente juridificación de la vida social, se ha recurrido a un tipo de racionalidad opuesta e inferiorizada: la estético-expresiva, un terreno fértil para la problematización de la realidad y para la construcción de utopías protopolíticas. En concreto, la investigación explora determinadas expresiones de arte urbano paulistano denominadas estéticas de las periferias (Leite, 2013), fundamentalmente el hip hop de protesta y la literatura periférica, que se han considerado en este trabajo como disidencias artísticas decoloniales. Su análisis ha puesto de manifiesto que uno de sus logros más destacables ha sido promover la apropiación del arte y de la cultura por parte de los colectivos que se autodefinen como "pobres, negros y periféricos". Las estéticas de las periferias se han convertido, así, en una importante herramienta política que ha contribuido a crear una ciudadanía insurgente, a través de la cual se expresan fuertes críticas a la situación de "apartheid urbano" (Santos, 2009a) vivida por estos colectivos. Ello, a su vez, ha hecho posible la gestación de un discurso de autovalorización identitaria y de memoria colectiva. Estos resultados han permitido a afirmar que el derecho a la ciudad precisa ser resignificado con la entrada de nuevos actores y de nuevas luchas para poder renovar su potencial emancipatorio. A la luz de una mirada no institucionalizante del derecho como la que aporta el "pluralismo jurídico" (Santos, 2009a), se arguye que también son una expresión del derecho a la ciudad determinados procesos sociales desde abajo que tienen como resultado la ampliación de facto del estatuto de ciudadanía. Las estéticas de las periferias constituyen un buen ejemplo de ello porque han contribuido a crear múltiples "espacios de representación" (Lefebvre, 2000), a través de los cuales los habitantes de las periferias paulistanas se han apropiado de la ciudad, resignificando estas áreas urbanas y construyendo espacios simbólicos donde es posible el florecimiento de utopías. El arte es el espacio del sueño y sin sueños no es posible desarrollar la imaginación y pensar alternativas, tan fundamentales en la lucha por la emancipación social. En suma, este trabajo defiende la necesidad de desjuridificar y descolonizar la mirada sobre el derecho a la ciudad para poder captar aquellas experiencias (como las que emanan del campo artístico-cultural decolonial) que, sin abanderar de manera explícita el derecho a la ciudad, constituyen efectivamente una expresión no normativa de él. ; As atuais cidades pósmodernas se desenvolveram com base numa lógica neoliberal que teve sérias conseqüências em termos de segregação e exclusão social. A resposta a este modelo urbano deu origem à formulação teórica do direito à cidade no final dos anos 60 (Lefebvre, 2009 [1968]). Na América Latina e especialmente no Brasil, o direito à cidade emergiu desde o final da década de 1980 como uma importante bandeira política que articulou a voz de múltiplos coletivos na sociedade civil. As mobilizações que ocorreram nesta região, bem como no movimento altermundialista, contribuíram para que essa narrativa também se enraizasse em outros países do mundo e fosse utilizada por uma ampla gama de atores. Como resultado desses diferentes usos e apropriações (alguns mais emancipatórios do que outros), existe uma notável ambigüidade conceitual em torno desse conceito, o que torna necessária a realização de exercícios analíticos detalhados sobre o seu significado. Este trabalho tem como objetivo contribuir com esse entendimento ao aprofundar na compreensão sobre o direito à cidade, não apenas a partir da sua formulação teórica, mas especialmente de como ela foi usada no contexto das lutas sociais. Um dos principais objetivos de analisar essa noção "de baixo para cima" do direito à cidade tem sido explorar até que ponto ele contribui efetivamente para dar voz ao que se denomina neste trabalho os condenados da cidade, parafraseando Fanon (2002 [1961]). Essa preocupação motiva a questão que dá título ao trabalho: pode o direito à cidade ser emancipatório? Para responder a esta pergunta, a investigação explora detalhadamente a experiência brasileira, particularmente o contexto da cidade de São Paulo, onde são exploradas as presenças, ausências e emergências da articulação política do direito à cidade. Para isso, tem-se recorrido ao método do estudo de caso alargado (Burawoy, 1991, 2009, Santos, 2009a) e as lentes teóricas dos estudos pós-coloniais, especificamente as epistemologias do Sul e a sociologia das ausências e das emergências (Santos e Meneses, 2009; Santos, 2005). Para a identificação de algumas das principais ausências e emergências do direito à cidade, a hipótese de trabalho utilizada foi considerar o mundo simbólico e do imaginário coletivo como espaços onde se manifestam "vibrações ascendentes" representativas de desconfortos sociais que não são articulados pelos movimentos sociais clássicos. Diante da crescente juridificação da vida social, utilizou-se um tipo de racionalidade inversa e inferiorizada: a estético-expressiva, um terreno fértil para a problematização da realidade e para a construção de utopias protopolíticas. Em particular, foram exploradas determinadas expressões da arte urbana de São Paulo chamadas estéticas das periferias (Leite, 2013), fundamentalmente o hip hop de protesto e a literatura periférica, que são consideradas como dissidências artísticas decoloniais neste trabalho. Sua análise mostrou que uma de suas conquistas mais destacadas tem sido a apropriação da arte e da cultura por parte dos coletivos que se autodefinem como "pobres, negros e periféricos". As estéticas das periferias tornaram-se, de esta forma, uma ferramenta política que contribui para criar uma cidadania insurgente, através da qual se expressam fortes críticas à situação de "apartheid urbano" (Santos, 2009a) vivenciada por estes grupos. Isso, por sua vez, tornou possível a gestação de um discurso identitário auto-valorizador e de uma memória coletiva. Esses resultados levaram a afirmar que o direito à cidade precisa ser resignificado a partir da inclusão de novos atores e novas lutas para que possa ser renovado seu potencial emancipatório. À luz de uma visão não institucionalizante do direito como a que é fornecida pelo "pluralismo jurídico", argumenta-se que determinados processos sociais também são uma expressão de baixo para cima do direito à cidade que resultam numa extensão de fato do estatuto de cidadania. As estéticas das periferias são um bom exemplo disso porque contribuíram para a criação de múltiplos "espaços de representação" (Lefebvre, 2000), através dos quais os habitantes das periferias de São Paulo se apropriaram da cidade, resignificando essas áreas urbanas e construindo espaços simbólicos onde florescem utopias. A arte é o espaço do sonho e sem sonhos não é possível desenvolver a imaginação e pensar sobre alternativas, tão fundamentais na luta pela emancipação social. Em suma, este trabalho defende que é necessário desjuridificar e descolonizar o olhar sobre o direito à cidade, a fim de capturar essas experiências (como as que decorrem do campo artístico-cultural decolonial) que, sem utilizar explicitamente a bandeira do direito à cidade, constituem efetivamente uma expressão não normativa do mesmo. ; Current postmodern cities have been built on the basis of a neoliberal logic with serious consequences in terms of segregation and social exclusion. The call into question of this urban model framed the theoretical underpinnings of the right to the city in the late 1960s (Lefebvre, 2009 [1968]). In Latin America, and in particular Brazil, the idea of the right to the city emerged from the late 80s as an important political banner that voiced the concerns of a multitude of civil society groups. The mobilisations that ensued in this regional context, and in the Alter-globalisation movement, enabled this narrative to take root in a number of countries and to be adopted by a large range of actors. As a result of these different uses and appropriations (some more emancipatory than others), a notable conceptual ambiguity arose round this concept, which makes it a necessary requirement to conduct a detailed analysis about its meaning. The purpose of this work is to deepen understanding of the right to the city, not only from a theoretical perspective, but especially how it has been used as an icon of some social struggles. One of the main objectives of analysing the notion of the right to the city from a "bottom-up" perspective, is to determine to which extent it has effectively contributed to provide a voice for the condemned of the city, to paraphrase Fanon (2002 [1961]). This apprehension prompted the question underpinning the title of this volume: can the right to the city be emancipatory? To answer this question, the research looks closely at the Brazilian experience, with a particular focus on the city of São Paulo, where the presences, absences and emergences of the political enunciation of the right to the city are explored. To this end, the analyses draws on the methodology of the extended case method (Burawoy, 1991, 2009, Santos, 2009a) and the theoretical lenses of post-colonial studies, specifically the epistemologies of the south, and the sociology of absences and emergences (Santos and Meneses, 2009; Santos 2005). The principal challenge of the investigation was indeed identifying some of the main absences and emergences of the right to the city. The working hypothesis has been framed in an exploration of the symbolic world and the collective imaginary as spaces that contain manifestations of "ascending vibrations", representative of social discomforts that are not expressed through conventional social movements. Against the backdrop of an increased juridification of social life, the research gave precedence to an opposite rationality which is often considered inferior: aesthetic expressive rationality- fertile ground for the problematisation of reality and the construction of proto-political utopias. In particular, some expressions of São Paulo's urban art, known as the aesthetics of the peripheries (Leite, 2013) were explored, such as protest hip-hop and peripheral literature, defined in this work as decolonial artistic dissidences. One of their greatest achievements has been the appropriation of art and culture by groups that define themselves as "poor, black and peripheral". The aesthetics of the peripheries have thus become an important political tool for the creation of an insurgent citizenship, and a means to level strong criticism against the "urban apartheid" situation experienced by these stakeholders (Santos, 2009a). This, in turn, made possible the gestation of a self-valorising identity discourse and a collective memory. These results demonstrate that the right to the city needs to be resignified by welcoming new actors and new struggles so that its emancipatory potential can be renewed. Through the lens of a non-institutionalised view of the law, provided by "legal pluralism" (Santos, 2009a), it is argued that certain "bottom-up" social processes are also an expression of the right to the city which result in a de facto extension of citizenship status. The aesthetics of the peripheries are a good example of this because they have contributed to the creation of multiple "spaces of representation" (Lefebvre, 2000), through which the inhabitants of the peripheries of São Paulo appropriated the city, resignifying these urban areas and building symbolic spaces where utopias could flourish. Art is the breathing space of dreams, and without dreams it is not possible to develop an imagination and to think about alternatives, that which is of utmost importance in the struggle for social emancipation. In short, this work argues that it is necessary to move towards a dejuridification and decolonisation of the right to the city, with the view to capture the experiences (such as those that constitute decolonial cultural-artistic expressions) that, without explicitly utilising the banner of the right to the city, effectively embody a non-normative expression of it.