Compreender as relações sociais que favorecem a ocorrência e a ampliação da diversidade biológica na região neotropical vem sendo uma das principais preocupações da etnobiologia. Este trabalho objetivou avaliar a riqueza de etnovariedades de mandioca cultivadas em comunidades situadas na área de floresta pública estadual denominada Gleba Nova Olinda I, Pará, Brasil. Os dados foram obtidos durante oficinas participativas com 46 informantes, os quais foram submetidos a análises qualitativas e quantitativas. No local, são conhecidas pelo menos 52 etnovariedades de mandioca, cujo compartilhamento de germoplasma ocorre de forma inter e intracomunitária. O acúmulo de conhecimento detido pelos comunitários sobre esse recurso agrobiológico revela o protagonismo da população na conservação biológica na região da Gleba Nova Olinda I. Desta maneira, é importante que o apoio ao desenvolvimento local esteja calcado na valorização do etnoconhecimento.
Medicinal plants continue to be appropriate and preferred alternatives for primary health care among rural Amazon populations, although their incorporation into conventional health services has been slow and challenging. Besides that, few Amazon plants have been considered in current public health policies. We sought here to better understand the role of medicinal plants in the therapeutic practices of residents of the Paulo Fonteles Land Settlement at Mosqueiro, a district within Belém (Pará State, Brazil) and identify species of potential value for government health services. Ethnobotanical data was obtained through semi-structured interviews with 61 residents. Results were analyzed using indices of use-report (Ur) and by consulting official documents of the Brazilian Ministry of Health (MS). The settlers use at least 61 exotic plants and 67 natives to Brazil; of the latter species, 21 were endemic to the Amazon region. The medicinal plants cited by the settlers were used for treating 76 symptoms and/or illnesses, especially related to digestive, respiratory, dermatological, and women's health problems; Anacardium occidentale, Alternanthera brasiliana, and Dalbergia monetaria had the highest URs. Forty plants are cited in MS documents. This research incentive more studies with Amazonian species and shows a list of 11 species for inclusion in health services offered to local populations. ; Las plantas medicinales siguen siendo una alternativa adecuada y preferida entre las poblaciones rurales amazónicas en la atención primaria de salud, sin embargo su incorporación a los servicios convencionales ha sido un desafío. Esta investigación buscó comprender el papel de las plantas medicinales en las prácticas terapéuticas de los habitantes del Asentamiento Paulo Fonteles, Mosqueiro, distrito de Belém (Pará), enfocándose en identificar especies potenciales a ser valoradas en los servicios oficiales de salud. Se obtuvieron datos etnobotánicos de 61 residentes mediante entrevistas semiestructuradas. Los resultados se analizaron mediante el índice "use-reports (UR)" y consultas a documentos oficiales del Ministerio de Salud. Los pobladores utilizan al menos 61 plantas exóticas, 67 nativas de Brasil, 21 de las cuales están restringidas a la Amazonía. Estas plantas combaten 76 síntomas y/o enfermedades, en especial los problemas digestivos, respiratorios, dermatológicos y femeninos para los cuales Anacardium occidentale, Alternanthera brasiliana y Dalbergia monetaria presentaron mayor UR, respectivamente. Entre las especies mencionadas, 40 se enumeran en documentos de MS. Esta investigación fomenta más estudios con especies amazónicas y presenta una lista de 11 especies para su inclusión en los servicios de salud que se ofrecen a las poblaciones locales. ; As plantas medicinais continuam sendo uma alternativa apropriada e preferencial entre as populações rurais amazônicas na assistência primária à saúde, contudo a sua incorporação aos serviços convencionais tem sido um desafio. Nesta pesquisa buscou-se entender o papel das plantas medicinais nas práticas terapêuticas dos moradores do Assentamento Paulo Fonteles, Mosqueiro, distrito de Belém (Pará), preocupando-se em identificar espécies potenciais a serem valorizadas nos serviços oficiais de saúde. Os dados etnobotânicos foram obtidos junto a 61 moradores por meio entrevistas semiestruturadas. Os resultados foram analisados utilizando o índice use-reports e consultas a documentos oficiais do Ministério da Saúde. Os assentados, utilizam pelo menos 61 plantas exóticas, 67 nativas do Brasil, 21 destas restritas à Amazônia. Estas plantas combatem 76 sintomas e/ou doenças, sobretudo problemas digestivos, respiratórios, dermatológicos e feminino para os quais Anacardium occidentale, Alternanthera brasiliana e Dalbergia monetaria apresentaram maior UR, respectivamente. Dentre as espécies citadas, 40 constam em documentos do MS. Esta pesquisa incentiva mais estudos com espécies amazônicas e apresenta uma lista de 11 espécies para inclusão nos serviços de saúde oferecidos às populações locais.
Resumo Segundo estudos recentes, a influência indígena sobre a floresta amazônica foi intensa, diversificada e teve início com a chegada do Homem na região, nos primórdios do Holoceno inferior. Nesta história de longa duração, no entanto, a seleção cultural de espécies úteis promovidas não foi uma via de mão única. Ela impactou a seleção natural, quando muitas espécies foram distribuídas geograficamente pelas sociedades humanas, resultando em um importante capital para as gerações futuras. Por outro lado, essas mesmas sociedades tiveram suas escolhas, suas técnicas e seus costumes influenciados pelas espécies selecionadas. Isso quer dizer que durante a acumulação desse capital ocorreu uma inter-relação entre a cultura e a natureza, de modo que ambas se desenvolveram e/ou evoluíram conjuntamente. Em Carajás, no Pará, temos evidênciasde que, além da inter-relação Homem/natureza, cujos efeitos podem ser notados muito além dos espaços arqueológicos circunscritos pela mera distribuição da cultura material, as sociedades pioneiras que lá viveram foram capazes de transformar os ambientes explorados em paisagens domesticadas, ricas em recursos, o que ocorreu segundo uma alteridade social de longa persistência, com diferentes períodos de desenvolvimento cultural, favorecendo o surgimento de processos históricos contíguos, mas diferentes, que foram territorialmente amplos e cada vez mais complexos.