O texto, elaborado sob a forma de um ensaio, procura esboçar uma constelação histórica em que as contradições da individualidade são continuamente redefinidas tanto por mudanças econômicas como por novos dispositivos sociotécnicos que reconfiguram o sensório, a cognição e os desejos. Percorre o texto o argumento de que a individualidade depende da reflexão crítica, da produção de experiências intelectuais, e que o entendimento das contradições em tela depende tanto de um olhar para o todo, para o capitalismo e suas mutações, como para os dispositivos, instituições e tecnologias em que as relações entre saber e poder tomam formas concretas em sítios próximos aos indivíduos. O texto finaliza ressaltando ainda a relevância da arte para o desenvolvimento de uma subjetividade afeita ao pensamento crítico.
A obra de Harmut Rosa apresenta um conjunto de conceitos que permitem analisar as formas sociais de organização temporal. No centro desse arcabouço conceitual se encontra a ideia de aceleração. Ao colocar a aceleração no centro da discussão sobre a temporalidade na sociedade contemporânea, Rosa deslinda uma série de processos sociais importantes para uma crítica radical da sociedade atual, trazendo para primeiro plano contradições e dessincronizações que resultam de imperativos temporais sistêmicos pouco discutidos e conceituados. Seu diagnóstico aponta para a existência de um déficit ético e político em cujo cerne se encontram imperativos temporais que impossibilitam tanto o debate político como a formação de uma experiência ética do sujeito sobre si mesmo e sobre a sociedade. A partir dos conceitos de Rosa procuramos discutir temas como: a afirmação falaciosa de que a cultura digital é um meio propício à emancipação dos sujeitos que dela se valem, as dificuldades de promover um debate ético e político atualmente e a necessidade de trazer a dimensão temporal para a linha de frente da discussão acadêmica, procurando atualizar temas caros à Teoria Crítica da Sociedade.
A emergência da cultura digital a partir do desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação levou a críticas ao conceito de indústria cultural elaborado por Horkheimer e Adorno nos anos 1940, definindo a nova configuração a partir da interatividade, comunicação aberta e maior liberdade entre usuários. Entretanto, a um olhar crítico, a nova configuração se revela mais totalitária que a anterior. Todas as ações dos usuários no ambiente digital geram informações que podem ser compiladas e organizadas de acordo com algoritmos matemáticos, configurando o chamado Big Data; essas informações incluem dados sobre preferências, tendências políticas, gênero e perfis de personalidade, e levam a tentativas de vigilância ubíqua e manipulação por meio de propaganda dirigida, sendo política e economicamente muito mais eficaz do que na era da indústria cultural descrita por Adorno. A atualização da teoria crítica da sociedade implica compreender essa nova configuração, suas pretensões e contradições. Nesse sentido, este artigo objetiva tanto atualizar o conceito de indústria cultural, denunciando, assim, as novas formas de manipulação, quanto criticar a ideia de que a liberdade é imanente à Cultura Digital, presente em seus defensores. ; The emergence of the so-called digital culture from the development of new information and communication technologies led to criticisms of the concept of cultural industry, elaborated by Horkheimer and Adorno in the 1940s, defining the new configuration based on interactivity, open communication and greater freedom among users. However, to a critical view, the new configuration is even more totalitarian than the previous one. All the actions of users in the digital environment generate information that can be compiled and organized according to mathematical algorithms, configuring the so-called Big Data; such information includes personal preferences, political trends, gender, and even personality profiles, and leads to ubiquitous surveillance and manipulation through targeted advertising, being politically and economically far more effective than in the age of the cultural industry described by Adorno. The update of the critical theory of society implies understanding this new configuration, its pretensions and its contradictions. Therefore, the present article aims both to update the concept of cultural industry denouncing, thus, the new forms of manipulation, and to criticize the idea that freedom is immanent to the Digital Culture, present in its defenders.