Este artigo discute como se dá a lógica de construção teórica e empírica dos objetos de investigação de estudos críticos no campo organizacional. Analisamos trabalhos da área de Estudos Críticos e Práticas Transformadoras em Organizações do ENANPAD considerando: práticas de problematização, aspectos metodológicos, e práticas investigadas. Predominam a identificação de lacunas da teoria organizacional, e sua avaliação crítica, e desenvolvimento de bases alternativas, em geral guiado por um viés emancipatório nem sempre claro. A noção do aparato organizacional como contingente favorece abordagens pós-estruturalistas que permitam identificar elementos de uma formação hegemônica, práticas de resistência e articulações que visam a transformação.
Resumo Este estudo objetiva analisar o discurso do movimento social "Direitos Urbanos" (DU) e compreender como esse movimento se articula para desafiar discursos hegemônicos do urbanismo moderno e promover discursos alternativos ao modelo neoliberal. Para tal, utilizamos o aporte teórico da teoria dos Novos Movimentos Sociais (NMS). A arqueologia foucaultiana, com o objetivo de identificar as estratégias de construção do discurso do DU a partir dos sujeitos que o constituem, foi utilizada. As análises indicaram o DU como um centro contra-hegemônico, resistente e combativo ao modelo de gestão urbana desenvolvido na cidade do Recife, afirmando um projeto alternativo de cidade. O DU possui hierarquia fluida, estratégias dinâmicas e contingenciais, atua em rede e aglomera-se para demandas específicas.
No dia 12 de maio de 2016, primeiro dia de governo do Presidente Interino Michel Temer (PMDB), foi publicado no diário oficial da união a junção entre o Ministério da Cultura (MinC) e Ministério da Educação (MEC), revivendo o Ministério de Educação e Cultura (MEC). Desde então várias manifestações de artistas, intelectuais, associações, instituições de ensino e pesquisa e da população questionaram tal medida o que culminou na recriação do Minc no dia 25 de maio de 2016. Considerando a questão como pertencente a um campo de lutas políticas em uma realidade complexa usamos como suporte teórico e analítico a Teoria do Discurso (TD) desenvolvida por Ernesto Laclau e Chantal Mouffe (2015) para a compreensão das práticas discursivas em torno da extinção e recriação do Minc.
O artigo aborda as transformações que a Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, sofreu ao longo de seus 125 anos e objetiva identificar quais as lógicas que embasam os novos significados que estão ali sendo construídos. Para isso, observamos os discursos dos sujeitos políticos que atuaram em sua última grande transformação: a abertura da Avenida Paulista para pedestres e modais ativos em 2015 e fechamento para o tráfego de veículos automotores.
In: Ciências sociais UNISINOS: revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Band 53, Heft 2
Cada vez mais os relacionamentos de negócios têm sido um importante objeto de investigação de marketing. Todavia, eles não acontecem num vácuo entre as partes envolvidas. O contexto no qual são formados e desenvolvidos é chamado de atmosfera de relacionamento. Todavia, apesar de sua importância, a atmosfera de relacionamento ainda é um assunto pouco explorado. Com isto em mente, desenvolvemos o presente estudo exploratório. Nosso intuito foi o de gerar insights para uma melhor compreensão deste construto. Para tal, assumimos a perspectiva teórico-epistemológica da fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty, por meio de um estudo de caso de um relacionamento diádico típico, entre vendedor e comprador, cujas entrevistas foram submetidas a uma análise de discurso. Nossos achados corroboram as atuais dimensões do construto, mas também apontam para novas. Além disto, discutimos os insights a que chegamos, apontando alguns caminhos para as reflexões e pesquisas futuras acerca do tema.
Sob o principal argumento de proporcionar um trânsito mais seguro, a Prefeitura de São Paulo implementou o Plano de Proteção à Vida (PPV), uma série de medidas para acalmar o trânsito no espaço viário da cidade. Entre elas, uma que gerou consideráveis controvérsias foi a redução dos limites de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê implementada em julho de 2015. Este artigo visa compreender como se deram as lutas pela da redução dos limites de velocidade das marginais tornando possível sua implementação. Para isso, buscaremos identificar quem foram os sujeitos envolvidos, quais discursos defenderam sobre a medida, e como eles se articularam para buscar suas demandas. Sendo esses, então, os objetivos do artigo. Para nossos achados, utilizamos de dados secundários que foram analisados com base em categorias extraídas da Teoria do Discurso de Laclau e Mouffe (2015). Os resultados apontaram que a cadeia de equivalência formada entre Prefeitura e organizações da sociedade civil foi fundamental para a implementação da medida. E que ela gerou resultados positivos. Embora, a impopularidade dessa política pública ameace sua continuidade.
The Program of Culture for the Worker (Programa de Cultura do Trabalhador), launched in 2012 by the Federal Government of Brazil, is a public policy established to encourage cultural consumption by offering a voucher to access cultural events called – Vale-Cultura. From the bill to its publication (Law 12761 of 27 December 2012), it was handled between Goverment and Congress for four years, incorporating signification from both. This article aims to historicize the Vale-Cultura's narrative during the period the program's legal framework was being formulated. For this, an archive of 47 documents was analyzed using NVivo qualitative research software. The archaeological method of discursive analysis attributed to Michel Foucault was performed. Two discursive formations emerged from this analysis: "Culture's Commerce" and "Social Inclusion". Conclusions were presented and what was at first understood as contradictory, was later perceived as complementary. Finally, suggestions are proposed, considering the current performance of the program. ; El Programa de Cultura del Trabajador, lanzado en 2012 por el Gobierno Federal de Brasil, es una política pública para fomentar el consumo cultural, a través de la oferta de un beneficio comúnmente llamado Vale-Cultura. Desde el proyecto de ley hasta su publicación (Ley n.° 12761 del 27/12/2012), el programa tramitado por el poder ejecutivo y legislativo durante cuatro años, fue incorporando significados de acuerdo con los posicionamientos del Gobierno y del Congreso. En este artículo se pretende ubicar históricamente el discurso del ValeCultura durante el período de constitución de su marco legal. Para ello, se compuso un archivo con 47 documentos, que posteriormente se analizaron mediante el software de investigación cualitativa NVivo. Para este propósito, se utilizó el método arqueológico de análisis del discurso atribuido a Michel Foucault. De este análisis, surgieron dos formaciones discursivas: "Comercialización de la Cultura" e "Inclusión Social". Al presentar las conclusiones, lo que a primera vista podría parecer contradictorio, más tarde se percibe como complementario. Por último, también se sugieren reflexiones teniendo en cuenta el desempeño actual del programa. ; O Programa de Cultura do Trabalhador, lançado em 2012 pelo Governo Federal do Brasil, é uma política pública destinada ao incentivo do consumo cultural por meio da oferta de um benefício comumente chamado de Vale-Cultura. Do projeto de lei até a sua publicação (Lei No . 12.761 de 27/12/2012), o programa tramitou entre o executivo e o legislativo por 4 anos, incorporando significados de acordo com os posicionamentos do Governo e do Congresso. O presente artigo visa historicizar o discurso do Vale-Cultura durante o período de constituição do seu marco legal. Para isso, foi composto um arquivo com 47 documentos, posteriormente submetidos à análise pelo software de pesquisa qualitativa NVivo. Para tal, utilizou-se o método arqueológico de análise discursiva atribuído a Michel Foucault. Duas formações discursivas emergiram dessa análise: "Comercialização da Cultura" e "Inclusão Social". Conclusões foram apresentadas e o que poderia parecer à primeira vista contraditório mais tarde foi percebido como complementar. Finalmente, reflexões também foram sugeridas, considerando o desempenho atual do programa.
Nas últimas décadas tem se reconhecido que as marcas exercem um papel muito além da concepção de "nomear", "marcar" e "distinguir". Elas pertencem a um universo simbólico, e ao mesmo tempo o constituem, permitindo que os indivíduos signifiquem suas experiências por meio delas e, reciprocamente, as signifiquem por meio de suas vivências. A despeito do conhecimento dessa dimensão simbólica, pouco se investiga sobre como esses consumidores constroem esses significados. Assumindo uma perspectiva pragmática da linguagem, o presente estudo objetiva compreender como os consumidores significam as marcas, em suas interações, por meio de elementos de prosódia, que constituem importantes pistas sonoras de atitudes, emoções e intenções em situações de fala. Para tal, realizamos uma etnografia da comunicação com análise do discurso funcional. Os achados indicam o papel da prosódia na significação das marcas, uma perspectiva não mapeada na literatura da área.
As cidades estão em constante transformação. Mudanças que afetam direta ou indiretamente a vida de seus habitantes. Estes, cientes ou não, atuam para moldar o ambiente urbano conforme suas preferências. Assim, partindo do pressuposto que a construção da realidade metropolitana se dá através das disputas políticas entre os atores citadinos, o artigo tem o objetivo de propor um delineamento metodológico para análise de transformações urbanas com base na Teoria do Discurso de Laclau e Mouffe, visando apontar diretrizes que possam guiar novos trabalhos, de cunho qualitativo, que busquem estudar transformações nas cidades e como estas se deram por meio de construções discursivas de grupos conflitantes. A metodologia proposta colabora para o entendimento de como uma política pública, um movimento social ou uma organização informal é capaz de modificar uma condição posta já hegemonizada. São usados dois exemplos ilustrativos, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, de como a metodologia foi aplicada para se estudar lutas políticas urbanas.
As cidades modernas são caracterizadas por um histórico de planejamento urbano que privilegia o sistema da automobilidade. Tal hegemonia produziu relações desiguais nos espaços urbanos, marginalizando outros modais de transporte (i.e. pedestrianismo e ciclismo). Uma resposta a essa apropriação tem sido a adoção da ciclomobilidade como forma de amenizar os problemas gerados pela soberania da automobilidade. Porém, enquanto solução ela precisa de um espaço urbano plural de modo que as demandas daqueles marginalizados possam ser atendidas ou ao menos consideradas nas políticas de mobilidade urbana. Este artigo objetiva, então, propor dimensões do espaço urbano necessárias à inserção da bicicleta como umas das ferramentas de promoção de mobilidade urbana sustentável sócio e ambientalmente identificando-as no discurso de entidades cicloativistas. Propomos quatro dimensões para atender nosso objetivo: global, local, coletiva e particular.
A invenção dos tablets representou uma ruptura no mercado de tecnologias móveis. Porém, a hegemonia dos discursos em torno das grandes marcas tem produzido relações de desigualdade e marginalização daqueles considerados obsoletos frente a esse progresso tecnológico. Neste sentido, neste estudo buscamos por meio de uma abordagem crítica de Análise Retórica compreender como argumentos persuasivos influenciados por relações de poder/discurso são desenvolvidos nos enunciados publicitários de sujeitos presentes no mercado de tablets. Algumas das conclusões apontam como uma gama de conceitos, por exemplo, liberdade e eficiência, são articulados na formação dos tablets enquanto objeto discursivo.
Tendo em vista a importância da festa de Carnaval para a cidade do Recife, é natural que o evento envolva uma pluralidade de vozes presentes na construção dos significados relacionada à festa. Nesse sentido, optamos por recorrer à teoria do discurso de Laclau e Mouffe – que trata das articulações discursivas de diferentes agentes em torno de significados na construção de um discurso – na tentativa de buscar resposta ao seguinte questionamento: "Como se formou o discurso do Carnaval Multicultural do Recife?". À procura por caminhos metodológicos coerentes com nossa pesquisa e com as escolhas teóricas que estabelecemos, assumimos uma abordagem crítica, de corrente pós-estruturalista e matriz pós-marxista, adotando uma estratégia de pesquisa qualitativa. A construção de nosso corpus de pesquisa se deu por meio de duas etapas distintas. Primeiramente, por meio de leituras preliminares, identificamos os diferentes grupos relevantes que estabelecem algum envolvimento com o Carnaval Multicultural do Recife. Em seguida, elaborou-se o corpus, composto por meio de pesquisa documental, a fim de acessar as fontes discursivas objeto do nosso estudo. No que compete à análise dos dados, recorremos à análise de discurso de vertente francesa em articulação com a teoria do discurso de Laclau e Mouffe. Os discursos contrários ao formato atual da festa demonstram não ter força articulatória suficiente para fazer frente a todas as posições discursivas que se articulam em favor do Carnaval do Recife. Essa cadeia de equivalência favorável parece articulada o bastante para atribuir sentido ao significante vazio "Carnaval Multicultural do Recife", que aponta para a diversidade cultural como ponto nodal que propicia ao discurso oficial definido pelo governo municipal ocupar o espaço de hegemonia em torno desse discurso. A festa surge como um espaço de diversidade e pluralidade cultural, fonte de oportunidade econômica para diversos agentes. Por fim, apontamos como limitação deste estudo o fato de termos focado a análise na esfera das políticas públicas, do Estado, não acessando a dimensão do capital privado como agente influenciador da configuração da festa. Nesse sentido, apontamos como possibilidade de estudo a ser desenvolvido em oportunidades futuras uma análise do Carnaval Multicultural do Recife a partir da perspectiva das organizações privadas envolvidas com a realização da festa.