Nos últimos anos tem surgido no campo das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) no Brasil uma perspectiva teórica e prática denominada Desenvolvimento Institucional (DI). Para além de mero aprimoramento técnico-gerencial das organizações, o DI leva em conta seus posicionamentos no ambiente e suas intervenções para desempenhar suas funções de forma eficiente, legítima e sustentável. Nesse diapasão, o propósito deste artigo é discutir se (i) a proposta de DI em OSCs vai ao encontro dos pressupostos teóricos e conceituais da gestão social, tendo como fim imanente a emancipação dos sujeitos nessas organizações, ou (ii) se permanece arraigada nas premissas managerialistas dominantes da gestão estratégica. Argumentamos que, a despeito das ações de DI terem o potencial de promover espaços promissores para práticas comunicativas, reflexivas e emancipadoras de uma gestão social, esta nova corrente se aproxima, teórica e conceitualmente, de uma perspectiva de gestão estratégica do social, descambando para a ortodoxia do gerencialismo.
The objective of this article is to discuss the ideological nature of Jürgen Habermas' theoretical framework regarding his concept of public sphere within his deliberative democratic theory and its assimilation by social management in the field of administration. The study intends to contribute offering a critical approach towards the influence of Habermas on the notion of social management, mainly with regard to the category of public sphere, by relying on the theme of ideology in a capitalist State and a class society. We analyze the evolution and continuity of Habermas' thought about the public sphere and discuss the consonance of the perspective of social management with the assumptions of Habermas' deliberative theory. We then argue that Habermas' theoretical framework points to an ideology of consensus on social developments. In addition, we claim that, inasmuch as Habermas presumes the possibility of a wholly spontaneous and unfettered dialogue, he ends up designing, idealistically, the intersubjective communication and the public sphere as an "ideal" discursive instance – as aprioristic guarantees of success. We conclude that the "real" public sphere should not be conceived as an arena of idealistic communicative conditions but as a genuinely contentious and asymmetrical deliberative space. In addition, an effective public sphere is supposed to encompass both informal public opinion formation and formal decision making, that is, it should promote real sharing of decision-making power, as sustained by the perspective of social management. ; El objetivo de este ensayo es discutir el carácter ideológico de los lineamientos teóricos de Jürgen Habermas acerca de su noción de esfera pública, en el ámbito de su teoría democrática deliberativa, y su apropiación teórica y conceptual por la gestión social en el campo de la administración. Nuestra intención es contribuir con un enfoque crítico a la influencia del pensamiento habermasiano en la conformación del concepto de gestión social, especialmente en lo que se refiere a la categoría de la esfera pública, recurriendo al tema ideología a la luz del Estado capitalista y de la sociedad de clases. Para ello, analizamos la evolución y la continuidad del pensamiento de Habermas acerca de la categoría de la esfera pública y discutimos el alineamiento de la gestión social con los presupuestos teórico-conceptuales de la teoría deliberativa habermasiana. A continuación, argumentamos que el marco teórico habermasiano apunta a una ideología de consenso sobre los desarrollos sociales. Asimismo, argumentamos que, en la medida en que Habermas presume la posibilidad de un diálogo completamente espontáneo y no condicionado, proyecta idealistamente la comunicación intersubjetiva y la esfera pública –como instancia "ideal" de discurso– como garantías apriorísticas del éxito. Concluimos que la esfera pública "real" debe ser entendida menos como una arena de condiciones comunicativas idealistas y más como un espacio deliberativo genuinamente conflictivo y asimétrico, y que una esfera pública efectiva debe comprender tanto la formación informal de la opinión pública como la toma formal de decisiones colectivas, es decir, debe promover la verdadera compartición del poder de decisión, como preconiza la gestión social. ; O objetivo deste artigo é discutir o caráter ideológico dos delineamentos teóricos de Jürgen Habermas acerca de sua noção de esfera pública no bojo de sua teoria democrática deliberativa, bem como sua apropriação teórico-conceitual pela gestão social no campo da administração. Nosso propósito é contribuir com uma abordagem crítica à influência do pensamento habermasiano na conformação da concepção de gestão social, sobretudo no que tange à categoria da esfera pública, recorrendo ao tema ideologia à luz do Estado capitalista e da sociedade de classes. Para tanto, analisamos a evolução e as continuidades do pensamento de Habermas acerca da categoria da esfera pública e discutimos o alinhamento da gestão social com os pressupostos teórico-conceituais da teoria deliberativa habermasiana. Em seguida, defendemos o argumento de que o esforço teórico habermasiano aponta uma ideologia do consenso quanto aos desenvolvimentos sociais, bem como o de que, ao supor a possibilidade de um diálogo completamente espontâneo e não condicionado, Habermas acaba por projetar idealisticamente a comunicação intersubjetiva e a esfera pública enquanto instância "ideal" de discurso como garantias apriorísticas de sucesso. Concluímos que a esfera pública "real" deve ser tomada menos como arena de condições comunicativas idealísticas e mais como espaço deliberativo originariamente conflitual e assimétrico e que uma esfera pública eficaz deve abranger tanto a formação informal da opinião pública quanto a tomada formal de decisão coletiva, isto é, deve promover a efetiva partilha de poder decisório, tal como preconizada pela gestão social.
<span lang="PT-BR"><p>O presente artigo analisa a experiência do Curso de Bacharelado em Administração Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a partir de um seminário temático sobre Gestão Social ofertado, em 2011, em seis pólos da UFSC no Estado de Santa Catarina, buscando caracterizar a congruência da concepção de educação desenvolvida e da possível formação profissional decorrente com a abordagem da gestão social. A partir de estudo de caso, de caráter qualitativo e orientação descritiva, foram investigadas quatro categorias analíticas - cidadania deliberativa, dimensões epistemológica e profissionalizante do projeto político-pedagógico, além de clareza conceitual e capacidade analítica sobre Gestão Social. Os resultados demonstraram uma orientação à abordagem da educação estratégica em Administração Pública, em que se repetem as mazelas do ensino presencial, ampliando o risco da massificação cognitiva mediante uma racionalidade tecnológica que valoriza meios em detrimento de fins.</p></span>
Este trabalho tem como objetivo analisar o Programa Mesa Brasil-SESC (MBS), sob à luz da Coprodução e da Economia Circular, contextualizadas ao atual cenário Brasileiro, a partir das experiências dos municípios de Ijuí e Erechim/RS. Nesse intuito, o estudo apresenta como elementos teóricos os contextos mundial e brasileiro no que tange às demandas sociais emergentes, os conceitos e as estratégias de Coprodução e de Economia Circular e, por último, o MBS. Ao tratar as falas dos sujeitos da pesquisa, buscou-se estabelecer relação dialógica entre o referencial teórico de apoio e os elementos com aderência a esses conceitos. Assim, observou-se que o Programa, ao encontro dos objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2030, se apresenta como uma experiência consolidada, com importantes características inerentes à Coprodução e à Economia Circular. O MBS atua com eficiência, eficácia e efetividade, em prol do bem público, por meio de Coprodução, predominantemente, por automobilização, em uma gestão participativa e social. Além disso, desenvolve ações assistenciais e educativas que visam a transcender o modelo linear de produção e de consumo, característica aderente à Economia Circular.
Buscou-se analisar as ações do Plano de Contingência da Fiocruz frente a pandemia de Covid-19, a partir dos pressupostos de Perry e Lindell (2003) no Processo de Planejamento de Emergência. A pesquisa é de cunho qualitativo, do tipo estudo de caso. Identificou-se que entre os 10 pressupostos, seis foram identificados no plano da Fiocruz nas ações propostas para enfrentamento da Covid-19. Isso não inviabiliza a construção realizada, tendo em vista que a comparação do Plano de Contingência estudado com os pressupostos indicados pelos autores que sustentam a análise visa contribuir para a reflexão necessária à elaboração de documentos com abrangência ampliada, para que as situações decorrentes de eventos emergenciais decorrentes de crises sejam contempladas e com diretrizes estabelecidas para sua mitigação. No processo de gestão de crises, a coordenação e a integração das ações governamentais, com o terceiro setor e a sociedade civil constituem fator de terminante de sucesso.