Ronald Inglehart, dentre outros pesquisadores, tem defendido que a emergência de valores pós-materialistas em nível mundial estaria sendo acompanhada de uma postura mais tolerantes em relação à grupos minoritários e vítimas de preconceito. Ainda que testada satisfatoriamente no contexto das nações pós-industriais, essa hipótese não pode ser imediatamente transposta para países em desenvolvimento e materialmente não resolvidos, como os latino-americanos. O presente trabalho pretende contribuir para esse debate apresentando resultados de testes empíricos sobre essa suposta associação no contexto brasileiro. Utilizando dados produzidos pela Pesquisa Mundial de Valores, adicionalmente expomos um quadro sintético da evolução de alguns indicadores sobre o tema da tolerância, bem como situamos o público nacional no cenário latino-americano.
Uma das hipóteses derivadas da teoria do desenvolvimento humano associa a priorização de metas e objetivos pós-materialistas à ocorrência de valores e atitudes favoráveis aos processos de estabelecimento, consolidação e aprofundamento de regimes democráticos. O presente artigo pretende verificar a validade de tal afirmação para o contexto nacional, dotado de características bastante distintas das nações pós-industriais para as quais a teoria em questão foi originalmente formulada. Utilizando dados do projeto World Values Survey, o trabalho apresenta resultados de testes de associação e também de modelos de regressão que confirmam o suposto relacionamento, demonstrando que pós-materialistas tendem a manifestarem valores relativamente mais democráticos também no cenário nacional.
Estudos recentes sobre legitimidade democrática têm seguido uma perspectiva idealista que enfatiza a adesão dos cidadãos a valores fundamentais desta forma de governo. Alguns autores, entretanto, têm indicado que essa abordagem pode não ser adequada para a análise sobre países sem longa tradição democrática, propondo como alternativa um modelo realista que enfatiza como variável independente a avaliação de desempenho institucional. O presente artigo pretende contribuir para esse debate testando esse modelo alternativo para o caso brasileiro, utilizando dados produzidos pelo projeto World Values Surveys. Os resultados indicam que variáveis relacionadas a avaliações objetivas acerca do desempenho das instituições e das lideranças políticas têm um impacto maior sobre os níveis de legitimidade, em comparação com as variáveis referentes à adesão a valores.
O presente artigo pretende discutir a problemática relação entre a teoria contemporânea da democracia e os estudos sobre cultura política, a partir de um estudo de caso sobre as orientações políticas subjetivas dos membros do Conselho de Saúde da Região Sul de Londrina (CONSUL), uma organização popular existente na cidade de Londrina no interior do Paraná. Pretendemos defender a tese de que as conclusões suscitadas por um estudo acerca das orientações políticas subjetivas de subgrupos da comunidade nacional tendem a ter suas conclusões radicalmente alteradas em virtude de um posicionamento diante do debate teórico-conceitual sobre a questão da democracia.
Este artigo apresenta uma discussão sobre a definição das identidades culturais diante de E uma conjuntura pós-moderna, marcada sobretudo por fenômenos como a mundialização econômica e a diluição das barreiras entre as nações. Trata-e de uma leitura sobre algumas posições teóricas contemporâneas das ciências sociais, em especial da antropologia, sobre os elementos e processos constitutivos das identidades em um contexto de transformação social acelerada.
Definindo a participação política -- A multidimensionalidade do fenômeno participativo -- Condicionantes da participação 'convencional' e 'não convencional' -- Condicionantes individuais e estruturais do protesto político -- Os determinantes da participação no orçamento participativo
RESUMO Estudos sobre comparecimento eleitoral têm se dedicado à identificação dos condicionantes desse comportamento focalizando fatores de natureza estrutural, como o nível de desenvolvimento econômico das nações e características do sistema político, enquanto outros destacam variáveis individuais, como atributos sociodemográficos e atitudinais. Algumas pesquisas pioneiras têm recentemente investigado o impacto de características individuais de natureza psicológica sobre o comparecimento em democracias consolidadas com voto facultativo. Procurando contribuir para a compreensão desse fenômeno, o presente artigo apresenta resultado de pesquisa que procurou identificar os efeitos dessas características psicológicas sobre o comparecimento eleitoral nas jovens democracias latino-americanas que, entre outras particularidades institucionais, apresentam distinções quanto à obrigatoriedade do comparecimento. Utilizando dados do Latin American Public Opinion Project para um conjunto de 17 países da região, os resultados encontrados apontam para a relevância dessa dimensão psicológica individual para o comparecimento, com impactos distintos em contextos de voto facultativo e obrigatório.
Resumo Investigações recentes têm identificado cenário ambíguo de redução no envolvimento dos cidadãos em modalidades tradicionais e elevações consideráveis em formas contestatórias de mobilização. As interpretações acerca das consequências desse fenômeno são diversas, algumas apontando para os perigos da desmobilização tradicional e da apatia; outras enxergando na contestação impulso para o aprofundamento democrático. Quanto às possíveis causas, podemos encontrar clara divisão em duas perspectivas dominantes: de um lado, há pesquisadores que enfatizam fatores de ordem estrutural ou macro, tais como o nível de desenvolvimento econômico nacional e o grau de abertura do sistema político; de outro, encontramos autores que apontam para a relevância de atributos individuais, como sentimentos, atitudes e valores. Nessa segunda perspectiva analítica, todavia, um aspecto relevante continua pouco explorado: a personalidade individual. Os recentes avanços nos estudos em psicologia social sobre esse tema têm revelado que os indivíduos se distinguem em termos de traços psicológicos marcantes que se refletem em comportamentos mais inovadores ou conservadores, extrovertidos ou tímidos, responsáveis ou inconsequentes, dentre outros. Apesar da plausível relação entre esses tipos de personalidades e padrões de comportamentos políticos, poucos são os estudos que até o presente momento focalizam esse condicionante do engajamento dos cidadãos em diferentes formas de ativismo político. O presente trabalho apresenta resultados de pesquisa que procurou testar no plano empírico algumas hipóteses acerca desse relacionamento, focalizando especificamente o protesto político entre o público latino-americano. A base empírica para os testes é composta pelos dados produzidos pelo Latin American Public Project (Lapop), em sua onda de 2010, para um conjunto de 17 países. Com base em modelos estatísticos multivariados, foi possível identificar que alguns dos componentes da personalidade estão associados de maneira consistente ao ativismo contestatório na região analisada.
Studies combining psychology and political science have shown that personality traits such as extroversion and openness to experiences are conditioning factors of political activism. However, the mechanisms through which this effect occurs are still poorly understood. Aiming to advance this topic, this article presents the results of an investigation that looked to analyse the mediated effects of personality traits in the Brazilian context, taking as mediating conditioning factors various attitudes and subjective dispositions commonly found in the literature, such as interest in politics and subjective political efficacy. Using the Latin American Public Opinion Project data, the hypothesis was tested that personality influences behaviour, since it favours the development of a number of attitudes that function as basic factors conditioning civic engagement. The results indicate the significant mediated effects of extroversion and openness to experience, especially with regard to political knowledge.