A evolução da ameaça terrorista no discurso político transâtlantico
Este estudo analisa a evolução da narrativa política transatlântica sobre a ameaça terrorista radical islâmica. A interpretação do terrorismo islamista como uma das principais ameaças contemporâneas tem vindo a ser construída ao longo do tempo. Não só o próprio fenómeno se tem vindo a alterar como a também a narrativa que lhe está associada. A data de 11 de setembro de 2001 é considerada um ponto de viragem na abordagem elaborada pelo mundo ocidental, e marca o ponto de partida desta análise. A hipótese avançada considera que, nos 14 anos seguintes, o terrorismo islamista se tornou uma ameaça prioritária e existencial, o que equivale a afirmar que se tornou uma ameaça securitizada. O processo de securitização ilustra a deslocação de um fenómeno da esfera da gestão política para a gestão securitária, que supõe um estado de exceção e a implementação de medidas extraordinárias. Essa alteração tem início numa dimensão discursiva, nomeadamente, de âmbito político, por corresponder ao ator responsável pela garantia de segurança da população, e da opinião pública depender a sua legitimidade. O contexto transatlântico analisado compõe-se por quatro atores estatais, Estados Unidos, Espanha, Reino Unido e França, e dois institucionais, a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte. De forma complementar à análise, são expostos os antecedentes de cada um dos atores no que toca à sua experiência com a ameaça terrorista. É também apresentada uma síntese da evolução do conceito de terrorismo e do método islamista, com ênfase na trajetória do grupo al-Qaeda. O objetivo do estudo é alcançado pela análise crítica da narrativa transatlântica, reunindo comunicações de reação a atentados, com discursos anuais generalistas, e documentos de orientação estratégica sobre segurança nacional e terrorismo em particular. A análise discursiva evidencia o contexto como fator decisivo para o posicionamento da ameaça terrorista islamista numa perspetiva politizada ou securitizada. A circunstância dos atentados despoleta o discurso securitário, cuja influência no contexto transatlântico difere de Estado para Estado. Contudo, esse discurso não se mantém ao longo do tempo, revelando-se ritmos diferentes – europeu e norte-americano – no contexto transatlântico. ; This study analyses the evolution of the political transatlantic narrative on the radical Islamic terrorist threat. The interpretation of the islamist terrorism as one of the main contemporary threats has been built over time: not only the phenomenon itself has changed but also has the narrative associated with it. September 11th 2001 is considered a turning point of the western world approach and therefore marks the beginning of this analysis. The hypothesis put forward considers that, on the 14 years that followed, islamist terrorism became an existential and primary threat, which is to say is became a securitized threat. The process of securitization, which illustrates the shift of a phenomenon from the politics management to the security management, supposes a state of exception and the employment of extraordinary measures. This change arises on a discursive dimension, namely that of political scope, seeing as it belongs to the actor responsible for the population's warranty of safety and its validity depends on the public opinion. The transatlantic context that was studied is made up of four state actors (the United States of America, Spain, the United Kingdom and France) and two institutional actors (the European Union and the North Atlantic Treaty Organization). Complementary to the analysis are exposed each actor's antecedents in regards to their experience with the terrorist threat. A synthesis of the evolution of the concept of terrorism and its Islamic method is also presented, highlighting the al-Qaeda group. The purpose of this study is reached by the critical analysis of the transatlantic narrative, assembling together reaction declarations to attacks and general annual speeches, as well as strategic orientation documents regarding national security and, specifically, terrorism. This discursive analysis emphasizes context as the decisive factor for placing an islamist threat on a more politicized or securitized perspective. The circumstances in which the attacks take place trigger the security discourse, the influence of which differs from state to state in the transatlantic context. However, this type of discourse does not remain over time, exposing different rhythms – the European and the North American – in the transatlantic setting.