O texto seleccionado e que se apresenta agora em tradução portuguesa pode ser considerado como uma síntese exemplar das ideias de Hegel relativamente ao ensino da filosofia a nível secundário. Sobre a exposição da filosofia em Ginásios é um texto redigido como resposta a Immanuel Niethammer, na altura Conselheiro escolar da Baviera, que solicitara a Hegel uma apreciação sobre a reforma geral do sistema de ensino cuja aplicação estava em curso nas escolas bávaras e que tinha a sua expressão legal no documento de 3 de Novembro de 1808, Allgemeines Normativ der Einrichtung der öffentlichen Unterrichtsanstalten [Directiva geral para a organização dos estabelecimentos públicos de ensino].
As três cartas que nos finais de 1828 acompanham o envio da dissertação De ratione, una, universali, infinita apresentada por Ludwig Feuerbach à Universidade de Erlangen, embora de desigual relevo quanto ao conteúdo filosófico, formam no seu conjunto um documento de especial interesse para a compreensão da biografia intelectual de Feuerbach [...]
O presente artigo procura articular os conceitos de antropologia e de ética em Ludwig Feuerbach, inquirindo se devem ser identificados ou distinguidos, isto é, se a Antropologia enquanto filosofia do homem integral contém já implicitamente uma ética, ou se a ética, que é o seu correlato, não será também o seu efectivo aprofundamento. Duas considerações preliminares têm de ser feitas: uma diz respeito ao conceito de antropologia, que não é unívoco e sofre manifesta evolução ao longo da trajectória intelectual de Feuerbach; a outra remete para o facto de a tematização desenvolvida da ética ser tardia e ocorrer duas décadas após a fundamentação da filosofia da sensibilidade. Num primeiro momento, recuperamos alguns aspectos da ligação entre concepção do homem e concepção da moral no primeiro Feuerbach, quando ambas são perspectivadas sob a ideia de razão, gerando a circularidade entre razão humana e homem racional. Seguidamente consideramos as diversas "antropologias" trabalhadas no contexto da psicologia da religião, sobretudo em A Essência do Cristianismo, obra na qual se cruzam distintas perspectivas do humano e que terá conduzido Feuerbach a elaborar uma filosofia do homem integral. Esta só ganha fundamentação plena nos escritos de 1843, a par da ontologia da Sinnlichkeit, sendo aí a essência do homem concreto explicitada através dos princípios do sensualismo e do altruísmo. Nos escritos tardios, sobretudo em Sobre o espiritualismo e o materialismo, em particular na referência à liberdade da vontade, de 1866, identificamos um núcleo de convergência – o princípio da felicidade enquanto potenciação do ser – e outros de divergência, no quadro da distinção entre ser, agir e responsabilidade moral. Finalizaremos enunciando algumas reflexões de Feuerbach que superam a tendência para o antropocentrismo constitutiva da natureza humana, tais como os direitos políticos das mulheres e a extensão da comunidade ética aos entes não-humanos.