Imigração e colonização alemã no Brasil : uma revisão da bibliografia -- História e homenagem : análise prospectiva da produção local sobre imigração e colonização -- Imigração, cultura e identidades étnicas -- Imigração e etnicidade no Vale do Itajaí (SC) -- A colonização alemã como causa : a simbólica da utopia comunitária étnica -- Representações da cultura teuto-catarinense -- A etnicidade teuto-brasileira na perspectiva transnacional -- O incidente do Panther (Itajaí, SC, 1905) : estudo sobre ideologias étnicas -- Identidade étnica, assimilação e cidadania : a imigração alemã e o estado brasileiro
In this text I analyze some of the conceptual and subjective meanings of the notion of immigration, observing how these are appropriated in the debates on foreign colonization that influenced immigration policy in Brazil during the nineteenth century and the first half of the twentieth century. I also discuss everyday representations of immigration contained in writings by German immigrants sent to colonize areas of southern Brazil, exploring the liminal identity that emerges as a result of the difficulty experienced settling in still untamed areas of Brazil. The text examines understandings of immigration more directly associated with the colonization process promoted by the Brazilian state, still included in the 1945 Law of Foreigners, through which large areas of uncultivated lands in the south of the country were occupied by European immigrants (and their descendants) in the form of family smallholdings. Under these circumstances, German immigration preceded other flows of migrants, despite Brazilian nationalistic concerns over assimilation.
Este artigo aborda aspectos da formação camponesa ocorrida numa área de colonização estrangeira em Santa Catarina (o vale do Itajaí), povoada mais intensivamente por imigrantes a partir de 1850, ano da fundação do núcleo colonial de Blumenau. A análise contempla as representações e apropriações da categoria colono, conformada como identidade social aludida ao processo histórico de ocupação do território e à dicotomia clássica rural/urbana, só em parte associada a exploração familiar da terra e a ruralidade. Nesse caso, destaca-se principalmente o período histórico do povoamento e da emergência de núcleos urbanos (entre 1850 e 1914), fonte da simbólica que marca os discursos, inclusive atuais, sobre a colonização e seus pioneiros.
A colonização de várias regiões do sul do Brasil por imigrantes europeus começou em 1824, com a fundação da colônia de São Leopoldo (RS) por alemães, numa iniciativa do governo imperial visando o povoamento de um território ainda sujeito às disputas fronteiriças, e o desenvolvim ento de uma forma de exploração agrícola distinta da grande propriedade escravista. A proibição da presença de escravos no regime de colonização só ocorreu no final da década de 1840 quando, de fato, houve a retomada do fluxo im igratório (alemão), interrompido desde 18301. A intensificação do processo de colonização ocorreu após a promulgação da lei 601 - a Lei das Terras - em 1850, que influenciou a política imigratória associando-a ao desenvolvimento de um sistema agrícola baseado na pequena propriedade familiar. Desde então, imigrantes europeus de diversas procedências, com predominância de alemães, italianos e poloneses, na condição de colonos, receberam terras destinadas à agricultura demarcadas em "linhas coloniais", povoando uma parte substantiva da região sul na forma que Jean Roche (1969) denominou "enxamagem" - uma evocação da m ultiplicação de colm eias, metáfora para assinalar a expansão dos núcleos coloniais. [...]
Num artigo publicado em 1951, Emílio Willems fez uma bre1 W ve referência à idéia de assimilação prevalescente no Brasil, suposta como processo no qual os grupos alienígenas devem desaparecer - metaforicamente "diluídos", "absorvidos", "digeridos" - na sociedade dominante luso-brasileira. Nesse contexto, a existência de minorias não é admitida, nem aceita, na discussão pública dos problemas de assimilação, e as possíveis influências culturais dos imigrantes e seus descendentes estão contidas na idéia vaga de "contribuição" em benefício do país adotivo (Willems, 1951: 209). A assertiva de Willems tem correspondência no estudo de Manuel Diegues Junior sobre a influência da imigração nos processos de urbanização e industrialização ocorridos no Brasil: trata-se de destacar a colaboração econômica de diferentes grupos de imigrantes - especialmente os de maior expressão demográfica - acrescentando breves informações sobre a legislação restritiva e dados acerca das "contribuições" resultantes do contato cultural entre alienígenas e brasileiros. Diegues não escapa de uma certa visão idealizada do melting pot, embora defina a cultura brasileira como alguma coisa vagamente plural "dentro da sua base lusitana" (Diegues Junior, 1964: 371). Nos dois trabalhos a assimilação é claramente associada a mecanismos de desenvolvimento econômico e mobilidade social, em situações de contato interétnico. [...]
Na segunda metade do século XIX surgiram nas regiões de colonização do sul, e nas cidades brasileiras que receberam imigrantes alemães, numerosas associações criadas para diversos fins - predominando, num ericam ente, aquelas identificadas com atividades culturais e esportivas. [...]