Resenha de: GREEN, James N & QUINALHA, Renan (Orgs.). Ditadura e homossexualidades: repressão, resistência e a busca pela verdade. São Carlos: EdUFSCar, 2014. 332 p.
Resumo O escopo deste artigo consiste em investigar – a partir de um estudo de caso desenvolvido no litoral norte do estado da Paraíba – as possíveis articulações entre etnicidade, homossexualidade e religião, tomando-os como campos de experiência coletivos e individuais que, embora relativamente autônomos, podem emergir em variadas modalidades de conjugação, dependendo dos contextos socioculturais e interativos, dos atores envolvidos e da natureza das relações sociais.
Resumo: Este artigo busca sistematizar as referências sobre homossexualidade indígena na literatura clássica da etnologia brasileira, bem como apresentar textos recentes produzidos por antropólogos sobre a questão. O objetivo, mais do que apresentar um conjunto de textos e autores, é indicar a existência de um campo de estudos já consolidado (ainda que não necessariamente articulado internamente), por meio de pesquisas realizadas nos últimos anos, apontando também os desafios e perspectivas de se tomar "homossexualidade indígena" enquanto tema de investigação.
A etnologia indígena brasileira pouco tem produzido acerca da homossexualidade, sendo este um tema ainda velado nos relatos etnográficos. Neste sentido, em meio a etnografias desenvolvidas a partir de 2006 até a presente data com o Povo Pataxó (sobretudo do Território Indígena Kaí-Pequi), pretendo manter um diálogo articulando a homossexualidade com a etnicidade, tendo o "regime de índio" como espaço de enunciação na produção de subjetividades e circulação de discursos, tensionando a fixidez e os emolduramentos das identidades no campo das sexualidades.
Resumo Com o intuito de contribuir para a reflexão mais geral sobre as articulações entre ciência e política, discuto neste artigo como, na prática, se constrói o conhecimento dos antropólogos que, em contínuo trânsito pelas fluidas fronteiras entre o ativismo LGBT e a reflexão acadêmica, tornaram-se atores importantes no processo de cidadanização da homossexualidade no Brasil. Tomo como referência dois contextos históricos distintos. O primeiro deles situa-se entre finais dos anos 1970 e meados dos anos 1980, quando o movimento começa a se organizar no Brasil. O segundo, no qual se desenvolve minha própria experiência de pesquisa, corresponde, grosso modo, à primeira década dos anos 2000.
Este livro está inserido no campo de estudos interdisciplinar, com foco para as áreas temáticas de gênero e sexualidades. Apresenta uma análise dos discursos que conectam crimes sexuais, homossexualidade, homofobia familiar e justiça na cidade de Aracaju na década de 1990, trazendo ao debate as mudanças socioculturais ocorridas, nesse período, na capital sergipana, e suas conexões com as transformações globais provocadas por reivindicações diversas em torno dos direitos sexuais, do movimento LGBTTT's e da AIDA. Para a construção do texto foram realizadas pesquisas em três fontes distintas: jornais, processos penais e entrevistas. A análise do material considera a importância de compreender os discursos como construídos historicamente. O estudo evidenciou questões importantes sobre o então contexto local citadino apontando para aspectos como: a presença do movimento homossexual que exerceu forte influência na formulação de políticas públicas em Sergipe, além de agentes ligados a saúde e segurança pública que foram importantes na consolidação de direitos às pessoas LGBTTT's. Por outro lado, evidenciou aspectos relacionados à homofobia familiar que atinge jovens homossexuais. O livro aponta para o fato de que nos anos 90, Aracaju estava passando por um processo de modernização intenso, mas que dialogava diretamente com os valores de uma sociedade tradicional
http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2016v23n35p229Este artigo objetiva discutir a temática do assumir-se homossexual nas cartas de leitor presentes no jornal Lampião da Esquina (1978-1981), distribuído nacionalmente durante sua produção. Dentre os vários temas que constituíram essa documentação epistolar, elejo a preocupação com a visibilidade pela sua frequência tanto na seção, como nas demais matérias veiculadas no periódico. Portanto, escrevo uma história das emoções em torno do binômio calar ou falar a homossexualidade no Brasil entre as décadas de 1970-80.
O presente artigo tem por objetivo refletir teórica e etnograficamente sobre os possíveis cruzamentos entre etnicidade e homossexualidade, tomando como contexto empírico o município paraibano de Baía da Traição, no estado da Paraíba, onde está localizada uma das Terras Indígenas Potiguara. Tendo as interseccionalidades como mote inspirador, busco aqui problematizar também um outro tipo de cruzamento, desta vez envolvendo diferenças culturais e desigualdades sociais.
A presente pesquisa objetiva compreender sexualidade e homoafetividades em escolas de Blumenau e região. Aplicou-se um questionário a 105 professores e 987 estudantes. Os dados são analisados com base na arqueologia e na genealogia de Foucault. Veriicouse que a homossexualidade é vista apenas como uma prática, por relação genital. Não se aludem gêneros além de masculino e feminino. A maioria dos professores mostra preconceito com a homossexualidade, enquanto 70% dos estudantes a aceita. Professores e estudantes ignoram o sentido de homoafetividade e mostram visão estereotipada de homossexualidade. Sobre alteridade, a escola não discute sexualidade e rejeita homossexuais, embora os estudantes aceitam o tema, diminuindo a intolerância e a hostilidade aos diferentes na sexualidade. Mas falta curiosidade, tipo já sei tudo, atitude que revela pouca expectativa sobre a escola, na superação dos estereótipos aos quais ela tem aderido, reproduzindo-os na atitude dos professores, no material didático pautado na heterossexualidade, na moralização das condutas que ela impõe. O alto índice de preconceito entre os professores mostra que o esclarecimento sobre a homossexualidade deve ser buscado fora da escola, pois esta se mostra ineiciente com temas relevantes da educação atual, como a diversidade, a alteridade e a sexualidade.
Neste artigo, pretendo apresentar um quadro das noções de gênero e identidade sexual em Cabo Verde, suas estabilidades e tensões, a partir da perspectiva privilegiada dos sujeitos homossexuais daquele país. Nesse sentido, a categoria êmica "hipocrisia" apareceu recorrentemente nos discursos dos sujeitos homossexuais pesquisados. Esta categoria de acusação parece denunciar ao mesmo tempo um silenciamento da sociedade mais ampla e uma contradição entre moralidades e práticas operantes em Cabo Verde no tema da homossexualidade. Meu argumento é que mais do que uma simples crítica moral dos sujeitos homossexuais aos seus compatriotas e a sua sociedade em geral, a categoria pode nomear uma perspectiva do sistema de gênero cabo-verdiano de relativa estabilidade, que chamei de "Sistema Hipocrisia".
Este artigo aborda teoricamente dados empíricos sobre a produção de centros e periferias no centro de São Paulo tendo como vetores diferenças de gênero e suposições baseadas em sexualidade. Tal abordagem temática discute a existência de uma "rua gay" em São Paulo: a Frei Caneca. Em contraste, a região Repubica aparece como portadora de um tipo de homossexualidade menos legítima e interessante, portadora de masculinadade feminizada. Em tais regiões da cidade se reúnem a maioria das opções de lazer noturna, compras e encontro entre homossexuais. Uma quantidade considerável de ruas e conjuntos de ruas nestas regiões são chamadas genericamente de "gay", apesar da presença de público assim definido ser complexa e variável. Suas identidades variam entre lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e aquelas que não têm uma identificação bem marcado, mas tais expressões são marcadas de forma desvalorizada a depender do espaçoque se ocupa. O argumento do artigo analisa esse ponto.
Estudos relacionados à homossexualidade e saúde vêm sendo amplamente realizados no último século, porém no que tange o processo de inclusão das travestis neste serviço, pouco se é discutido. E com este direcionamento, a presente pesquisa busca identificar a percepção das travestis em prostituição, do município de Confresa-MT, frente aos atendimentos nos estabelecimentos públicos de saúde. Sabe-se que as questões de gênero e sexualidade sempre foram tabus na sociedade, porém a violação dos direitos dos homossexuais às políticas públicas, principalmente do universo composto pelas travestis, leva-nos a preocupação diante dos estigmas e preconceitos que condicionam esta população à uma intensa vulnerabilidade. Diante dos resultados obtidos, pode-se entender que as ações de saúde não condizem com as reais necessidades das travestis, assim como relatam a constante presença de preconceito e estigma advindo de profissionais e pacientes que também fazem uso destes serviços. Sendo assim, tornam-se necessárias reformulações nos espaços de saúde e transformações no modo de pensar e agir dos profissionais, através da implantação de ações que sanem as necessidades destes atores sociais.
Introdução / Suely Aldir Messeder -- Blanqueamiento social, nación y moralidad en América latina / Mara Viveros Vigoya -- Família, modos de usar e abusar. Maternidade e deslocamentos ou ensaiando indisciplinas / Mary Garcia Castro -- Por uma microfísica do saber; os contornos da família / José Euclimar Xavier de Menezes, fernanda Andrade Leal -- Falas de família(s)? Era uma vez papai, mamãe e filho(s) / Enézio de Deus Silva Júnior -- O Programa Bolsa Familia a partir das crianças beneficiadas : uma abordagem das moralidades engendradas pela condicionalidade escolar / Flávia F. Pires -- Homossexualidades como processo educativo e construção discursiva / Anderson Ferrari -- " Eu me sentia assim, meio excluído" : performances hegemónicas e as dissidências na escola / Marcio Caetano, Paulo Melgaço da Silva Junior, Treyce Ellen Silva Goulart -- Pedagogias do corpo: é possível a escola ser um espaço de reconstrução? / Cássia Cristina Furlan, Eliane Rose Maio -- " Nem toda a gente gosta do diferente" : literatura, (de)formação do leitor e diversidade / Emerson Inácio -- A literatura e as constelações familiares : como instaurar outros " melhores mundos possíveis" / Renata Pimentel -- (Micro)políticas Queer / Fernando Pocaby -- Poder psiquiátrico e transgeneridade : em torno da verdade diagnóstica / Beatriz Pagliarini Bagagli -- Pensando a cisgeneridade como crítica decolonial / Viviane Vergueiro -- Moralidades : quando a heterogênese ética se mostra criadora e livre de juízos devalor bipolares / Dante Augusto Galeffi -- Gabriela Leite - histórias de uma puta feminista / Letícia Cardoso Barreto, Claudia Mayorga
Este artigo tem como objetivo discutir a influência dos dispositivos religiosos sobre a subjetivação dos sujeitos. Trata-se de um estudo teórico sobre como as religiões cristãs, mais precisamente o catolicismo, compreendem a homossexualidade, e o quanto essas concepções estigmatizadoras podem influenciar na subjetivação dos sujeitos com práticas homossexuais. Sobre o dispositivo religioso, Rios, Parker e Terto Jr. (2010), observam que as concepções cristãs funcionam com estruturas de tempo longo e continuam presentes orientando pensamentos e ações no ocidente contemporâneo. Nesta perspectiva Sanchis (2001), analisa que a construção da identidade do sujeito "sexual-religioso" perpassa diversidades e pluralismos, que são percebidos a partir do deslocamento do discurso dogmático das religiões para sua realização implicada na subjetividade do indivíduo (p. 113). Neste sentido, reconhece-se a capacidade de negociação entre os discursos religiosos oficiais e as experiências cotidianas. Sendo assim, o pertencimento religioso se constitui como relativamente independente da adesão às ideias e práticas das instituições religiosas (SILVA; PAIVA; PARKER, 2013). Diante disto, o sujeito religioso se faz protagonista de sua religiosidade, orientando-se pelo sistema de crenças disseminado pela sua religião de escolha, mas tendo liberdade de modifica-lo quando necessário, ajustando-os a sua experiência (WATANABE, 2005 apud SILVA; PAIVA; PARKER, 2008). Ou seja, há uma adaptação, por parte dos fiéis dos discursos e dogmas cristãos, a partir de valores individuais ou subjetivistas. Neste sentido, o que se verifica é um multipertencimento religioso, e/ou as desregulações das doutrinas propaladas pela religião professada.