Este artigo trata das interações entre o campo jornalístico e o dos movimentos sociais, onde observamos o entrecruzamento de matrizes culturais. Neste contexto, a cidadania funciona como estratégia de oferta de sentido dos movimentos socioambientais na busca por visibilidade pública. A partir de um estudo empírico, o artigo identifica as matrizes culturais do campo jornalístico e dos movimentos socioambientais, analisa como a fonte enquadra seus discursos para dar visibilidade a suas agendas, e o lugar que a matriz ambiental ocupa nesta interação.
Este estudo trata de um processo de formação de professores em Educação Ambiental, por meio da construção de audiovisuais socioambientais. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), foram usadas em uma experiência de educomunicação socioambiental com uso e produção de audiovisuais perpassada pela perspectiva da ecosofia, a qual propõe a criação de novos territórios existenciais a partir da interação entre o eu, o nós (socius) e o ambiente. Tem-se por objetivo deste estudo analisar produções audiovisuais socioambientais ecosóficas e suas potências para a efetivação da EA. A metodologia de pesquisa, caracteriza-se como qualitativa e bibliográfica, ancorada na pesquisa-ação com observação participante. Como procedimentos técnicos para a produção de dados, utilizaram-se diários de campo, gravações em áudio e transcrições de encontros realizados com professores, além de análises etnográficas dos dois audiovisuais produzidos durante a formação de quatro professoras de diferentes níveis e redes da Educação Básica. Os resultados demonstram que audiovisuais socioambientais constituem-se em uma estratégia para a reinvenção dos modos de fazer educação ambiental no espaço escolar e a ecosofia, enquanto pano de fundo, fornece diversas possibilidades para os diferentes fazeres da Educação Ambiental.
A internet possibilita às organizações sociais o papel de protagonistas na consecução do direito à informação, de modo a estimular a participação cidadã no debate público sobre as mais diversas questões, dentre as quais a hídrica. Este estudo analisa notícias veiculadas por duas organizações governamentais responsáveis pela gestão das águas no contexto brasileiro: uma nacional e outra do estado de São Paulo. Discute-se se suas práticas comunicativas atendem aos pressupostos legais do direito à informação no processo de agendamento e enquadramento da crise hídrica de São Paulo. O estudo é descritivo e analítico, qualitativo, de base bibliográfica e documental. A amostra é não probabilística, por tipicidade e acessibilidade. Emergiram quatro categorias de análise a partir de uma diversidade de elementos que compuseram a macrocategoria enquadramento: fontes, conflitos, responsabilidade e soluções. Concluiu-se que a organização estadual enquadra a crise como uma situação "sob controle", enquanto a organização nacional busca explicar tecnicamente os mecanismos para o seu enfrentamento. De modo geral, e considerando-se a relevância do problema, as duas organizações publicaram pouco e informaram predominantemente a partir de interesses institucionais e não do interesse público. Por fim, verifica-se que o papel das organizações de caráter ambiental deve ser ampliado em se tratando da implementação do direito à informação ambiental.
Este artigo de revisão bibliográfica e observação empírica reflete sobre narrativas midiáticas produzidas como parte de movimentos sociais contra-hegemônicos e suas contribuições com a democracia comunicacional ao propor temas marginalizados. A grande mídia se tornou suspeita ao seu público devido à relação próxima com os campos econômico e político; como sua operação mercadológica massiva não pode dar conta da heterogeneidade cultural da sociedade, acaba por promover exclusões e estereótipos. Diante de uma hegemonia a operar, grupos minoritários buscam manifestar suas identidades por meio de iniciativas autônomas à mídia tradicional, denominadas midiativismo.
A confrontação de interesses sociais em decorrência dos diversos usos dos recursos naturais gera conflitos socioambientais. Os elementos que compõem os conflitos socioambientais são múltiplos, pois sofrem interferência de aspectos históricos, políticos, culturais, econômicos, etc. Por esse motivo, o seu tratamento efetivo, por vezes, depende da participação e do engajamento dos sujeitos envolvidos. Para tanto, a mediação e a educomunicação socioambiental podem ser mecanismos para alcançar processos de governança, baseado na integração e no compartilhamento de objetivos. Neste artigo é realizada uma revisão bibliográfica para refletir sobre a contribuição da educomunicação socioambiental na busca por compreender situações de conflitos socioambientais e seu possível avanço em direção a processos de governança, a partir das múltiplas mediações que o marcam.
The present work is a practical-conceptual essay that analyzes media activism strategies and their possibilities in the environmental communication field, based on theoretical discussions and reflections on the practices of environmental NGOs observed by the authors in previous systematic investigations. The Internet enables a renewal of language, technical resources, proposals for interaction and participation, as well as the collective construction of information and opinion. However, the analysis shows that organizations still rehearse their immersion in the cyber universe and reproduce, in their communication experience, the logic of conventional media, thus missing the opportunity to democratize and broaden the environmental discussion. ; O presente trabalho é um ensaio prático-conceitual que analisa as estratégias midiativistas e suas possibilidades no âmbito da comunicação ambiental, a partir de discussões teóricas sobre o tema e de reflexões sobre as práticas das ONGs ambientalistas, observadas pelas autoras em investigações sistemáticas anteriores. A internet possibilita uma renovação da linguagem, dos recursos técnicos, das propostas de interação e participação, assim como da construção coletiva de informação e opinião. Mas as análises apontam que as organizações ainda ensaiam sua imersão no universo cibernético e reproduzem, na sua experiência comunicativa, a lógica da mídia convencional, perdendo a oportunidade de democratizar e ampliar a discussão ambiental.
Este artigo busca investigar a atual insurreição do movimento feminista no Brasil e a influência das redes sociais neste fenômeno. Para isso, relata a evolução do movimento através das quatro ondas, suas reivindicações e conquistas. A metodologia se apoia em estudos bibliográficos sobre movimentos sociais e sobre o feminismo, bem como no estudo de caso do coletivo feminista brasileiro Não Me Kahlo, e na análise qualitativa das publicações que tiveram como tema a violência, em sua página na rede social Facebook, durante os meses de janeiro e junho de 2019. Desta forma, o artigo considera que a quarta e atual fase do movimento feminista surge por meio de uma indignação feminina coletiva em razão dos crescentes casos de violência de gênero, e se impulsiona e populariza através das redes sociais.
Este trabalho tem como objetivo principal discutir a relação entre espaço e construção de identidade, tomando em análise o ambiente urbano através das práticas sociais que formam o que aqui serão chamados de lugares identitários: porções do espaço público definidas por sua significação e posição cultural, formadas a partir de processos singulares e subjetivos de codificação-decodificação e compreendidas a partir de relações sociais, fixos, fluxos e falas. A partir destes conceitos, é apresentada ao final uma proposta suplementar ao modelo de Milton Santos, associada a construção de um sistema semântico complementar aos sistemas de objetos e sistemas de ações conceituados pelo autor.
A imigração voluntária dos africanos para o Brasil é recente e foi motivada pela procura de melhores condições de vida, trabalho ou estudo. A mobilidade estudantil é crescente e atrai jovens moçambicanos. O objetivo deste estudo é identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos estudantes moçambicanos durante sua formação na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa e descritiva. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 19 alunos moçambicanos da Unilab. Busca-se a interpretação dos relatos dos estudantes a fim de caracterizar sua experiência, com foco nas dificuldades apresentadas. Os elementos que apareceram espontaneamente nos relatos deram origem a duas categorias emergentes de análise: a) Xenofobia e Racismo e b) Hipersexualização. Os preconceitos mudaram o estilo de vida dos entrevistados, pois precisaram enfrentar uma condição não esperada: o preconceito sobre o lugar de origem (Moçambique/África), principalmente, e, secundariamente, pela cor. Além destes, as mulheres moçambicanas vivenciaram situações de machismo, especialmente a hipersexualização, que afeta sua experiência de mobilidade estudantil no Brasil. O machismo é enfrentado por elas em Moçambique e em nosso país, fazendo com que sofram uma espécie de cruzamento de preconceitos transnacional.
A África é fortemente afetada pela mobilidade humana internacional, que tem, entre outros motivos, a busca por qualificação profissional por meio da educação. O objetivo do presente artigo é analisar a experiência da mobilidade estudantil como possibilidade de desenvolvimento humano, a partir do estudo do caso dos moçambicanos que realizam cursos de Graduação na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Problematiza-se como a mobilidade estudantil possibilita desfrutar das liberdades propostas na Abordagem das Capacitações: liberdade política, facilidades econômicas, oportunidades sociais, garantias de transparência e segurança protetora. O estudo qualitativo e descritivo está ancorado em entrevistas semiestruturadas realizadas com 19 alunos da Unilab em 2020. Os entrevistados, ao optarem pela mobilidade, acessaram uma liberdade de escolha que possibilitou outras liberdades e oportunidades, em um movimento recursivo virtuoso que se reflete não apenas na sua esfera pessoal, como também no desenvolvimento das suas regiões e país de origem. A mobilidade abriu perspectivas de crescimento econômico, social, cultural e político para os estudantes moçambicanos. Evidenciou-se que a mobilidade estudantil dinamizadora de recursividades na Abordagem das Capacitações: do Estado para a pessoa, da pessoa para o Estado e das pessoas entre si.
Resumo Pensar as hortas urbanas como alternativa de desenvolvimento socioambiental em grandes cidades leva a questionar quais aspectos da vida das pessoas são afetados de forma mais relevante pelas atividades em hortas urbanas, em Teresina/Piauí. O objetivo do artigo é analisar como os aspectos sociais, institucionais, econômicos e produtivos são dinamizados nas experiências dos hortelões inseridos no Projeto Hortas Comunitárias em Teresina. A pesquisa é exploratória e qualitativa, baseada em estudo bibliográfico, documental e de campo. Foram entrevistados em profundidade 12 hortelões. O tratamento dos dados foi baseado na análise textual. Como alguns dos resultados, evidenciou-se que as hortas favorecem laços sociais e a ampliação da renda, assim como o empreendedorismo, mas, mesmo com o apoio da prefeitura, há necessidade se maior acesso a equipamentos e a elementos de infraestrutura, como água e banheiros, assim como de capacitação.
Abstract Thinking of urban gardens as an alternative for socio-environmental development in large cities leads to questioning which aspects of people's lives are most significantly affected by activities in urban vegetable gardens in Teresina/Piauí. The objective of the article is to analyze how the social institutional, economic, and productive aspects are dynamized in the experiences of the gardeners inserted in the Community Gardens Project in Teresina. The research is exploratory and qualitative, based on a bibliographical, documental, and field study. 12 vegetable gardeners were interviewed in depth. Data treatment was based on textual analysis. As some of the results, it was evident that the gardens favor social ties and the expansion of income, as well as entrepreneurship, but even with the support of the city hall, there is a need for greater access to equipment and infrastructure elements, such as water and toilets, as well as training.
A falta de estrutura técnica e financeira acarreta a deficiência na gestão de resíduos sólidos domésticos e fez com que cerca de três quartos dos municípios do estado do Rio Grande do Sul decidissem terceirizar a gestão de seus resíduos, elevando os custos dos serviços devido à distância percorrida até a sede da empresa contratada e os valores pagos às empresas para a disposição. Diante da dificuldade em prestar o serviço público à população de forma satisfatória, minimizando os impactos ambientais e apresentando melhorias na gestão dos resíduos, torna-se necessário estudar novas alternativas para o setor. A Lei dos Consórcios Públicos nº 11.107/2005 serve como aporte legal e propõe, aos gestores públicos municipais, novos modelos de gestão compartilhada para o gerenciamento integrado dos resíduos urbanos. O objetivo do artigo é analisar a potencialidade da implantação de consórcios para o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos nos municípios que compõem o COREDE - Vale do Taquari, no Estado do Rio Grande do Sul. Sob a abordagem qualitativa, por meio de pesquisa bibliográfica e de campo, com uso de questionários, averiguou-se a possibilidade de consorciamento na região. Os dados construídos por meio da pesquisa evidenciam que há necessidade de uma solução coletiva para a gestão dos resíduos na região, na qual muitos municípios não se adequaram à legislação, e eles têm a seu favor a vantagem de proximidade, portanto há potencialidade de consorciamento, o que depende de questões subjetivas e partidárias relacionadas aos gestores públicos.