Texto decorrente de fala ministrada no dia 25 de novembro de 2020 no Circuito de Palestras "30 anos de Problemas de Gênero: reverberações da teoria de Judith Butler".
Internet, sex and secret are a triad that launches many methodological and ethical challenges for those who conduct researches in the digital media field requiring reinvention of already consolidated techniques. On Ashley Madison website, which is oriented to promote dates between married people, I became immersed in the dynamics of these relations in which the tension among new communication technologies, masculinities, conjugalities and affections market led me to discuss the researcher's place and role as interlocutor and confident; being aware of the emotional dimension of media proved to be a crucial factor on the production of discourse and of the evident textualization of oneself.
A partir de uma abordagem antropológica que dialoga com a teoria queer, analisam-se três experiências de conjugalidade envolvendo travestis que se prostituem, discutindo-se os limites dessas relações, impostos pela visão de mundo que orienta as travestis, pessoas pertencentes em sua maioria às camadas populares e, de acordo com a hipótese que se coloca, tributárias de uma visão de mundo holista. Assim, observa-se que as relações conjugais vêm fortemente orientadas por perspectivas essencialista quanto ao sexo e ao gênero, atribuindo papéis rigidamente estabelecidos para cada parceiro. Ao naturalizar o sexo que exige um gênero supostamente coerente a essa anatomia que elas simplesmente não aceitam como destino, mantêm-se atadas à matriz heteronormatizadora. Informadas por uma gramática de conjugalidade heterossexual, elas encontram dificuldades em elaborar um outro léxico para as relações conjugais.
Desde a comercialização dos hormônios femininos, na forma de contraceptivos, a construção da pessoa travesti ganhou um novo impulso. Na busca de um "corpo perfeito", isto é, associado a padrões socialmente sancionados como femininos, compôs-se todo um circuito estético e de cuidados de si que burla a medicina ocidental, por um lado, mas que em alguns momentos a ela se associa. Do modelo "travecão" ao "menininha", as travestis se submetem a inúmeros processos de intervenção corporal que se iniciam com a ingestão de hormônios, passando pela aplicação de silicone industrial até operações de redução da testa, extirpação do pomo-de-adão e renovadas sessões com "bombadeiras", pessoas que "fazem o corpo", isto é, injetam silicone nas travestis. Orientadas pela heteronormatividade compulsória, as travestis transformam seus corpos a fim de adequá-los a seus desejos, práticas e orientação sexual, reconhecidas por elas como "homossexuais". Nessa construção subvertem o gênero e paradoxalmente, também enfatizam o caráter de assujeitamento por detrás do culto contemporâneo a padrões de normalidade, saúde e beleza.
Esse artigo propõe uma discussão sobre a prostituição travesti, procurando evidenciar a importância dos territórios de prostituição como locais fundamentais para a construção do "ser travesti". Através das diferentes categorias êmicas que classificam as travestis, sobretudo, no comércio sexual, é possível perceber a relação das travestis com os clientes. A violência das ruas, o uso de drogas, o sonho e a realidade da prostituição na Itália, temas abordados nessa análise, são atravessados pelos afetos, disputas, demarcações territoriais e o sentido das relações afetivas e comerciais.
A partir da aproximação com um campo de pesquisas ainda inicial, discute-se neste artigo a menstruação como um tema tecnopolítico, considerando a formação de grupos de ativismo menstrual em países sul-americanos e o crescente extrativismo de dados biológicos e fisiológicos que ocorre por meio de aplicativos móveis para o monitoramento do ciclo menstrual. O menstruapp Flo, serve como campo experimental para essa discussão na qual o "empoderamento" aparece como uma espécie de termo flutuante que vai do mercado ao ativismo e encontra seu limite na proposta individualizante e neoliberal. Frente a capturas de mercado e a sedução das tecnologias digitais é possível produzir no Sul Global tecnopolíticas de resistência a um mercado global de extração de dados íntimos? A resposta aportada neste artigo é otimista e toma como exemplo empírico o projeto colombiano da Escuela de Educación Menstrual Emacipadas como espaço de resistências do Sul Global frente às tecnologias colonizadoras do Norte.
Resumo: Neste artigo, analisamos o movimento #elenão e suas reverberações em contexto francês. Num movimento que ganhou repercussão transnacional, mulheres brasileiras organizadas por diferentes lógicas de opressão mostram agência política pelo uso das redes sociais digitais e, especificamente, de hashtags. De inspiração etnográfica, partiu-se de observações participantes da autora e autor nas manifestações que aconteceram na cidade de Paris, na França, no período das eleições de 2018, no Brasil, mas também de entrevistas com as organizadoras locais dos eventos. Mobilizando como operador analítico o conceito de political agency, ou capacidade de agir politicamente, segundo Judith Butler, argumentamos que este movimento, iniciado pelas mulheres, foi um elemento unificador de outras minorias políticas, como negros e LGBT+, contra o avanço do "neofascismo" e retrocessos no campo dos direitos humanos.
Apesar das mudanças políticas e sociais em relação às transexualidades e travestilidades, elas ainda são consideradas pela Associação de Psiquiatria Norte-Americana (APA) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como transtornos mentais. Essas entidades divulgarão em 2013 as novas versões do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - APA) e do Código Internacional de Doença (CID - OMS), o que tem mobilizado ativistas trans que reivindicam a retirada da transexualidade do rol das doenças identificáveis como transtornos mentais. A campanha Stop Trans Pathologization (Pare a Patologização!) se internacionalizou e envolvia, até o início de 2012, mais de 29 países. Neste artigo, discutiremos algumas iniciativas dessa campanha, analisaremos a ideologia de gênero presente no DSM e no CID, que incorporam o gênero como uma categoria diagnóstica, e, por fim, apresentaremos argumentos pelo fim do diagnóstico de gênero.
Cet article vise à analyser le contexte de guérilla linguistique autour du genre dans le Brésil contemporain. Deux phénomènes nous intéressent : d'une part, l'utilisation du titre de presidenta par Dilma Rousseff, une stratégie de féminisation d'un terme et d'une position politique historiquement masculine ; puis l'utilisation de la lettre x comme terminaison de genre neutre, une stratégie de rupture du système linguistique hétérocispatriarcal et binaire du portugais qui est devenu visible dans l'espace public ces dernières années. Ces phénomènes nous permettent d'entrevoir que « le x de la question », dans le cas du Brésil, n'est que l'expression d'une panique morale vis-à-vis de la puissance politique du concept de genre.