Resenha do livro Senhores de terra, senhores de guerra: sociologia histórica do patronato estancieiro do Rio Grande do Sul (1920-2019), de Marcos Botton Piccin.
O artigo tem por objetivo refletir sobre o processo de construção da categoria agricultura familiar no Brasil contemporâneo. A reflexão aqui sintetizada toma por base a revisita aos principais trabalhos acadêmicos que contribuíram para definir o campo de reflexão da agricultura familiar no Brasil, análise documental e entrevistas com lideranças e assessores do sindicalismo da agricultura familiar. Argumenta-se que existiram três conjuntos de atores que promoveram a construção da categoria agricultura familiar no Brasil: alguns trabalhos acadêmicos que deram base para repensar o lugar teórico desta agricultura na história e no desenvolvimento do país; as políticas do Estado e as normativas legais que deram visibilidade e definiram operacionalmente como se compreende esta categoria; e as organizações de agricultores familiares que têm identificado nesta categoria o seu projeto de agricultura e a utilizam como identidade política.
Resumo O objetivo do artigo é analisar o processo de formação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) na área de atuação tradicional da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e a situação de pluralidade sindical gerada. O sindicalismo rural brasileiro foi criado na década de 1960 e, desde a sua formação, conviveu com uma tensão entre os diversos grupos sociais que formaram a categoria trabalhador rural. Nessa categoria foram enquadradas as categorias que viviam do trabalho, tais como assalariados, pequenos proprietários, posseiros, sem-terra. Desde o processo de redemocratização, este sistema de representação sindical foi questionado com a formação de diversos novos atores no campo. Porém, foi com a criação da Fetraf, em 2001, como órgão específico dos agricultores familiares, que passou a se formar uma situação de pluralismo sindical no campo. Esta situação tem gerado uma forte concorrência por legitimidade e por bases sindicais.
Os movimentos sociais do campo têm passado por mudanças significativas nos últimos anos. Buscando contribuir na compreensão destes processos, este artigo objetiva analisar as mudanças recentes nas identidades coletivas, na articulação política e nos projetos dos movimentos que se articulam na Via Campesina e na FETRAF. Estes movimentos tiveram origem comum nos anos de 1970 e 1980, passaram por diferentes fases em suas trajetórias, mantendo certa unidade de ação. Porém, a partir de meados dos anos 1990, suas estratégias de ação diferenciaram-se, ocorrendo mudanças nas identidades e projetos. A FETRAF passou a identificar suas bases como agricultores familiares, adotou a tática de obter maiores espaços na institucionaldade através da busca de sua democratização e, enquanto projeto, tem procurado ressignificar positivamente a pequena agricultura através do reconhecimento desta como "produtora de alimentos para a Nação". Os movimentos da Via Campesina passaram a identificar suas bases como camponeses, adotaram a tática de construção de resistência ao capitalismo no campo e seus projetos visam fortalecer o modo camponês de produzir e viver e transformar as estruturas socioeconômicas.
As preocupações ambientais têm influenciados os projetos políticos e a construção das pautas das organizações de agricultores familiares. O objetivo deste artigo é analisar como estas preocupações têm sido assimiladas pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (FETRAF-Sul). Com base em pesquisa documental e entrevistas com lideranças de agricultores, fez-se uma leitura sobre o processo de construção da pauta ambiental no sindicalismo rural a qual indica que desde meados da década de 1980 o tema ambiental vem se fazendo presente na atuação sindical e que a forma como ele vem sendo entendido muda ao logo dos anos. Se em um primeiro momento tendia a ser associado com as consequências negativas da modernização da agricultura, no período mais recente o tema ambiental vem sendo colocado no centro do projeto de agricultura do sindicalismo rural e passa a fomentar a positivação do modelo de produção da agricultura familiar.
Resumo O artigo analisa as mudanças promovidas pela Reforma Trabalhista de 2017 nas relações de trabalho rurais e nas práticas sindicais. Os direitos trabalhistas e a sindicalização dos trabalhadores rurais foram regulamentados nos anos de 1960 e receberam maior aprimoramento nas décadas seguintes, notadamente na Constituição de 1988. O artigo parte da análise de textos das Convenções Coletivas de Trabalho (CCT) e outros documentos, além de entrevistas com lideranças sindicais em quatro áreas do agronegócio gaúcho. As reformas reduziram o poder do Estado na definição das relações de trabalho, flexibilizaram os contratos e jornadas, os sindicatos perderam parte de seu poder na intermediação das relações de trabalho e das suas receitas, ao passo que aumentou a importância do acertado nas CCT, inclusive, se sobrepondo à lei. Estas mudanças são significativas para o trabalho rural e os sindicatos em áreas de ponta do agronegócio e ainda precisam ser melhor compreendidas pela academia.
The process of the family farmers' recognition as individuals with rights demonstrates having their first roots, in spite of being recent, if compared to the history of the Brazilian rural syndicalism, still in the constitution of the labor-syndical legislation in 1930. Therefore, seeking to explore that process the present paper has as objective to analyze the family farmers' emergence as individuals of rights in the contemporary Brazilian society, analyzing the processes of formation of the rural syndicalism and the expansion of the labor law for the rural workers as a form of accomplishment of a "regulated citizenship" until the decade of 1970; the urge to the official syndicalism, the structuring of a "new syndicalism" and the new social actors' appearance in the field, which made possible the enlargement of the citizenship spaces in the period of re-democratization in Brazil; the "crisis" of the new syndicalism, the creation of new syndical structures "apart" of the official structure (syndicalism of the family agriculture) and the emergency of the "family farmers" as subject of rights in the recent period ; O processo de reconhecimento dos agricultores familiares como sujeitos de direitos apesar de ser recente quando pensado a partir da trajetória do sindicalismo rural brasileiro demonstra ter suas primeiras raízes ainda na constituição da legislação trabalhista-sindical dos anos de 1930. Visando explorar esse processo o artigo tem por objetivo analisar a emergência dos agricultores familiares como sujeitos de direitos na sociedade brasileira contemporãnea. Analisa-se os processos de formação do sindicalismo rural e de expansão da legislação trabalhista para os trabalhadores rurais como forma de realização de uma "cidadania regulada" até a década de 1970; o questionamento do sindicalismo oficial, a estruturação de um "novo sindicalismo" e a emergência de novos atores sociais no campo, que possibilitaram a ampliação dos espaços de cidadania no período de redemocratização do Brasil; a "crise" do novo ...
Neste artigo analisa-se como o processo de luta pela terra conforma experiências produtivas baseadas na agroecologia e de que forma esses conhecimentos são acionados na luta pela terra. A análise é realizada acompanhando a trajetória social de quatro agricultores-assentados do assentamento Ceres/RS, formado em 1997. Discute-se que a participação em cursos de agroecologia esteve relacionada diretamente com os sistemas socioculturais dos indivíduos, a partir de um estilo de reação à vivência da forma acampamento. As recomposições socioculturais, como conhecimentos e disposições sociais internalizadas nesse período, serão marcantes nas trajetórias ligadas à produção agropecuária no assentamento, sendo acionadas em momentos de crise de reprodução social do grupo familiar.
ResumoAs preocupações ambientais têm influenciado os projetos políticos e a construção das pautas das organizações de agricultores familiares. O objetivo deste estudo é analisar como estas preocupações foram assimiladas pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da região Sul (FETRAF-Sul), na região Sul do Brasil. Com base em pesquisa documental e entrevistas com lideranças de agricultores fez-se uma leitura sobre o processo de construção da pauta ambiental no sindicalismo. Desde meados da década de 1980, o tema ambiental vem se fazendo presente nas preocupações sindicais, entretanto, a forma como ele vem sendo entendido muda ao longo dos anos. Se em um primeiro momento tendia a ser associado com as consequências negativas da modernização da agricultura, no período mais recente o tema ambiental vem sendo colocado no centro do projeto de agricultura do sindicalismo e passa a fomentar uma possível positivação do modelo de produzir da agricultura familiar.
In: Ciências sociais UNISINOS: revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Band 55, Heft 2
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2016v15nesp1p104A perspectiva de ecologização da produção na agricultura familiar vem ganhando importância nas últimas décadas. Por meio do resgate de práticas de produção artesanais e de conhecimentos tradicionais, ressignificados sob a ótica da ecologização, os produtos diferenciados oriundos da agricultura familiar têm adquirido espaço e conquistado consumidores. Este artigo procura refletir sobre o processo de transição para a agricultura agroecológica entre os agricultores familiares e assentados da região Central do RS e sobre as experiências das feiras coloniais e agroecológicas como espaços sociais onde ocorrem transações sociais de produtos e signos culturais entre produtores e consumidores. As feiras aparecem como espaços de realização dos produtores e dos produtos agroecológicos e coloniais. Nelas, os agricultores se realizam como sujeitos e são reconhecidos como tais pela comunidade, e os alimentos e produtos chegam ao seu destino final: a compra e o consumo consciente.
This article aims to analyze how the struggle for the foundation of a recycling association can be framed within the scope of social recognition of certain sectors of society. The recycling associations in the city of Erechim/RS are the result of a process of social struggle, with intense protagonism of pickers, carrinheiros and carrinheiras. The A4 recycling association, inaugurated in 2009, mobilized several sectors for its foundation, with emphasis on the significant presence of pickers, especially women who worked as pickers for recyclable materials. Women make up the majority in the A4 association and are primarily responsible for the functioning and maintenance of the association. Through a bibliographic review and the use of secondary data, the present study analyzes aspects about the formation of the A4 recycling association, the issue of gender and the labor market, seeks to address some of the specificities of women collectors, in order to analyze the process of constitution of the association, framed in the list of struggles for social recognition of sectors that are on marginal paths in society.
Os trabalhos deste dossiê apresentam diferentes perspectivas teórico-metodológicas em que aspectos sociais e científicos se entrecruzam no debate público. É com satisfação que publicamos esse conjunto de trabalhos e pesquisas na Revista Novos Rumos Sociológicos (NORUS) do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em seu quarto número.